"- Jornais, televisões e comentadores acertaram, de véspera, nos onzes das duas equipas. Por que razão os treinadores não reservaram qualquer surpresa para este clássico?
Porque as coisas óbvias, às vezes, são as mais acertadas. Não foi difícil perceber que Sérgio Conceição iria recorrer ao que tinha dado bons resultados em jogos de grau de dificuldade elevado e também não era complicado antecipar o 4x3x3 que Rui Vitória estava a ensaiar desde Guimarães. Confirmou-se tudo.
- Mas não faria sentido tentar surpreender com alguma ‘carta’ escondida?
A surpresa não tem de estar necessariamente no onze inicial. Os 90 minutos de um clássico são sempre muito ‘longos’. Há tempo para tudo e até mudar o sistema táctico mais do que uma vez, se for necessário. Como foi o que ontem se viu, por exemplo.
- A entrada forte do Benfica no clássico deveu-se a quê?
À vontade de marcar território e deixar claro desde o primeiro minuto que o principal propósito era vencer. Nesse sentido, o Benfica não especulou. Tentou sempre jogar, ter bola, circulá-la e até, se possível, perto da grande área do FC Porto. Entrou muito bem.
- O FC Porto conseguiu mudar a ‘cara do jogo’ mas demorou muito tempo. Só perto dos 30 minutos conseguiu empurrar o Benfica para os últimos metros. De que forma?
A equipa estava muito passiva no momento da posse do Benfica – dando tempo a Fejsa, Pizzi e Krovinovic para fazerem uma gestão confortável dessa fase. Quando Sérgio Oliveira e Danilo começaram a ‘encostar’ mais rápido no portador da bola, o Benfica passou a cometer erros e percebeu-se que em pouco tempo o controlo iria passar para o lado dos dragões. Inevitável.
- O FC Porto explorou até à exaustão a diagonal longa, entre Jardel e Grimaldo, a procurar a velocidade de Marega. Por que o Benfica não foi capaz de contrariar essa solução?
Isso aconteceu várias vezes, é verdade, mas apenas enquanto o Benfica teve a sua linha defensiva a jogar 30 metros à frente da área de Varela. No momento da recuperação de bola (no corredor central ou no lado direito do ataque das águias), o FC Porto nem precisava de pensar: diagonal longa a pedir a velocidade de Marega. Tinha duas vantagens na perspectiva da equipa de Sérgio Conceição: possibilitava à equipa subir as linhas momentaneamente e era também a única forma de criar alguma instabilidade na estrutura defensiva do Benfica. Foi assim 4,5,6 vezes – até o FC Porto conseguir estabilizar e ficar por cima do clássico.
- Em que momento é que se pode dizer que o FC Porto passou a ser dominador?
Quando Sérgio Conceição decidiu fazer a primeira substituição o FC Porto era, claramente, a equipa que mandava no jogo. Já não era preciso recorrer às diagonais de 30 metros porque Marega fazia agora dupla com Aboubakar no 4x4x2. Com Otávio lançado para o lugar de Sérgio Oliveira, a ideia era acrescentar capacidade para criar desequilíbrios no último terço.
- E esse plano não surtiu efeito porquê?
Porque Rui Vitória respondeu bem e não demorou muito tempo a mexer igualmente no seu meio-campo. Tirou Pizzi, que estava em claro sub-rendimento, e fez entrar Samaris. O grego ficou a jogar praticamente ao lado de Fejsa, com o Benfica, assim, a posicionar-se num 4x2x3x1 quase perfeito. O espaço que o FC Porto pretendia encontrar à entrada da grande área dos encarnados (a partir das soluções criativas de Otávio e Brahimi) foi preenchido por Samaris.
- A entrada de Zivkovic foi um erro de Rui Vitória?
Não. Foi um erro do próprio Zivkovic, que nunca deveria arriscar um corte daqueles tendo já um amarelo. Em teoria, a troca justifica-se. Cervi estava esgotado e Zivkovic poderia oferecer a definição que estava a faltar e também ajudar a conservar a posse de bola.
- A última imagem que fica do jogo é Marega a desperdiçar três flagrantes oportunidades de golo. É um bom retrato daquilo que foi o clássico?
O jogo já era outro quando esses lances aconteceram. O Benfica, com 10 jogadores em campo, já só procurava garantir o empate. O FC Porto ‘traiu’, nesse fase, a sua identidade e passou a utilizar o jogo direto e a bombear bolas . Marega fez o mais difícil, em três ou quatro ocasiões, e nunca conseguiu bater Varela.
- É possível eleger o melhor jogador em campo?
Bruno Varela. Exibição perfeita, sem qualquer erro. Até as defesas mais apertadas (várias!) foram executadas com aparente facilidade. Assombroso!"
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