"Jorge Jesus que me dê licença, ele que continua a espalhar competência e a agrupar títulos, mas há três treinadores portugueses que têm de ser colocados
acima dos demais, ao dia de hoje: Marco Silva, Paulo Fonseca e Rúben Amorim. Marco porque compete a nível de topo – não há campeonato acima da
Premier League – e cada vez melhor; Paulo por ser apenas o terceiro português, após Mourinho e Villas Boas, a ter chegado, no caso dele a pulso, a
um dos maiores (mesmo dos maiores) clubes europeus; Rúben Amorim por estar a dias de integrar esse mesmo núcleo restrito e após ter conseguido
tornar-se o melhor treinador - pelo menos dos que nos lembrámos - da história do Sporting. Escolho escrever isto esta semana, também em homenagem a
três jogos admiráveis que as suas equipas concretizaram.
A vitória menos impactante foi naturalmente a do Fulham, diante do Brentford, até por ser um resultado previsível. O elogio não resulta por isso, na essência,
de um jogo só, mesmo com aquele final empolgante, de uma reviravolta após o minuto 90 que foi tão feliz como justa. Há duas razões mais relevantes: uma
anímica, porque a equipa vinha de uma série de jogos sem ganhar, com uns quantos pontos perdidos à beira do fim, pelo que perder de novo, e em casa, agravaria uma sensação de incapacidade que a forma de jogar não sugeria; e uma outra ainda mais decisiva, eminentemente tática, porque fez justiça a uma equipa que sabe o que faz em cada momento e que reparte o jogo, corajosamente, em qualquer campo, mesmo face ao mais apetrechado oponente. Este Fulham 2024/25 é o melhor projeto da carreira de Marco Silva até agora. E o treinador português está hoje claramente na elite, em grande medida porque nunca deixou de evoluir. E fez a equipa, todo o histórico clube londrino, crescer com ele.
O que escrevi antes, recordo que disse, por palavras muito idênticas e na minha crónica anterior, sobre Rúben Amorim. Quando um treinador melhora a
cada ano a sua proposta de jogo, percebe melhor os jogadores de que necessita e os faz crescer, e tem como consequência uma evolução notável da
equipa e mesmo do clube que serve, não há prova de competência mais eloquente. No últimos anos, o Sporting não foi apenas Amorim mas nada foi
mais importante que Amorim no Sporting. O modo como saiu de Alvalade foi a imagem certa numa história perfeita: uma exibição para guardar, um resultado
para nunca esquecer, e, na hora de analisar toda aquela emoção, a mesma lucidez, humildade e classe que sempre revelou. Estava escrito, disse ele.
Pareceu mesmo. Mas o essencial do guião foi ele que o escreveu, ao longo destes anos.
Na mesma noite, outro resultado incrível de um comandante português, na impecável vitória do Milan em Madrid, em casa do rei da Champions e perante
um Ancelotti atónito. Porque não foi só o resultado, foi o modo como conseguiu. Uns dias antes, o Barcelona tinha goleado no mesmo estádio, com
o brilho dos seus meninos geniais que aqui elogiei, marcando quatro golos mas vivendo igualmente uns quantos lances de sobressalto, resultantes de um jogar de risco que deve ser sempre a matriz do Barça. Vi ambos os jogos com atenção e devo ser justo: o Milan, coletivamente, foi ainda melhor. Fonseca
estudou o adversário como sempre soube fazer e aplicou a estratégia que lhe permitiu dominar a todo o tempo, numa aula de como controlar sem bola e ferir com ela. Não marcou mais golos porque simplesmente não calhou, ou então porque Rafael Leão não é ainda o atacante completo que Fonseca reclama que ele seja, chegando-se mais à baliza e definindo melhor. Mas se alguém tiver capacidade de dizer isto ao (ainda) jovem e prodigioso atacante português que lhe faça chegar: em vez de amuar com o técnico que tem, que o aproveite. O Leão que vi em Madrid é talvez o melhor de que me lembro. E bem gostava de os ver festejar juntos daqui a uns meses. Porque Leão vai a tempo de juntar aos melhores do mundo e de caminho fazia justiça a Paulo Fonseca, o melhor dos treinadores que os portugueses têm dificuldade em colocar entre os melhores."
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