"A janela de contratações não existe em mais lado nenhum do mundo diz o autor deste texto – e não está louco
O mercado de transferências acabou ontem e, como sempre, por esta altura, não se fala noutra coisa no Brasil.
Quem contratou quem? Quem dispensou quem? Onde o craque mais apetecido vai estar de agora em diante? Quem se reforçou melhor? E pior?
Qual dos candidatos está mais bem preparado para os embates que se avizinham? E qual está menos? Sim, uma das principais formações reforçou-se pesadamente – mas a que custo? Outra, pelo contrário, optou por mexer o mínimo possível na equipa – mas não será um risco?
Nos próximos dias vão surgir os ansiados rankings nos jornais sobre o número e a qualidade das contratações. E, em contrapartida, o impacto das baixas.
Sim, como acabou ontem, como sempre, por esta altura, não se fala noutra coisa no Brasil além do mercado de transferências – até porque o mercado de transferências não existe em mais nenhum país.
Perdão? O autor destas linhas endoideceu?
Em primeiro lugar, o mercado de transferências no Brasil terminou a 7 de março e não ontem. O Flamengo, por exemplo, contratou o uruguaio De La Cruz, o melhor negócio de 2024 segundo a maioria dos observadores, o Inter reforçou-se com Borré, outro golpe de mercado muito aplaudido, Luiz Henrique optou pelo Botafogo, que investiu 16 milhões de euros. E Scarpa rumou ao Galo, Everton Ribeiro ao Bahia, Renato Augusto ao Flu...
E que história é essa de o mercado de transferências só existir no Brasil? Há em todo o lado, com janelas de verão e de inverno, fora uma ou outra exceção localizada, muito bem definidas pelos organismos que tutelam o futebol.
Pois é: o mercado de transferências que acabou ontem e é uma especificidade brasileira não tem a ver com futebol e sim com política.
Todos os anos de eleições, durante um mês, do início de março ao início de abril, os deputados, federais ou estaduais, se a eleição for geral, ou vereadores, se a eleição for municipal, como sucede este ano, podem trocar de partido, como um jogador troca de clube. E os partidos podem aliciar os deputados mais competitivos, como os clubes buscam os melhores jogadores.
Soará estranho aos ouvidos portugueses e de eleitores de países onde a identidade dos partidos é forte mas não tanto no Brasil onde, no pântano de cerca de 30 formações com assento parlamentar federal, estadual ou municipal, a maioria, assumidamente, não é de direita, nem de esquerda, nem sequer de centro.
São, no fundo, meras barrigas de aluguer para políticos, numa realidade onde se vota muito mais em pessoas do que em formações partidárias.
Por isso sim, como acabou ontem, por uns dias, não se falou de outra coisa a não ser em quem assinou pelo partido de Lula ou pelo partido de Bolsonaro com vista às eleições municipais porque o Brasil é um país único – e não apenas no futebol."
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