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domingo, 29 de outubro de 2023

Grande nau, grande tormenta


"Roger Schmidt deve ser o primeiro dos insatisfeitos com o rendimento do Benfica

O Benfica recebe hoje o Casa Pia, num contexto de insatisfação dos adeptos pelas exibições de uma equipa que tem a qualificação para a fase a eliminar da Champions presa por arames, e nem sequer é favorito a entrar na Liga Europa. Quer isto dizer que cada jogo da Liga nacional será para os encarnados uma verdadeira bóia para permanecer à tona, e manter hipóteses de celebrar, no final da época, no Marquês. Porém, para revalidar o título não chega o que o Benfica tem apresentado na presente temporada, muitos furos abaixo do fulgor e da qualidade de 2022/23.
E como é que os encarnados chegaram a este ponto, se mantiveram o treinador e contrataram, com critério, substitutos para Grimaldo, Gonçalo Ramos e ainda Enzo Fernández? Bernat e Jurásek são maus jogadores? Arthur Cabral desaprendeu de jogar? Kokçu é um bluff? A resposta a todas estas perguntas é «não». Porém, nem Bernat ou Jurásek fazem o que Grimaldo fazia, nem Arthur Cabral entrega o mesmo que entregava Gonçalo Ramos, nem Kokçu é um clone de Enzo Fernández. E se a estas mudanças adicionarmos a vinda de Di María, que encanta com bola, mas já não tem 90 minutos de compromisso defensivo nas pernas, percebemos que «este» Benfica não pode jogar da mesma forma do «outro» Benfica.
E esse tem sido o principal erro de Roger Schmidt, que anda a tentar a quadratura do círculo, sem identificar o que aparenta ser uma verdade elementar: com estes jogadores, com este plantel, o Benfica não tem condições de pressionar alto (falta Ramos), não consegue circular a bola com a mesma qualidade (falta Enzo), e não usa a ala esquerda e as bolas paradas como dantes (falta Grimaldo). Se Schmidt não alterar o modelo de jogo, adaptando-o aos jogadores que tem, e esquecendo os jogadores que tinha, as dificuldades dos encarnados continuarão a multiplicar-se, e não será fácil vaticinar um final feliz na Luz. O mais simples, para fazer um reset na equipa, é passar do 4x2x3x1, que deixa demasiado espaço entre setores, a um 4x4x2 que, mesmo com o bloco mais baixo na saída de bola do adversário, se mantenha compacto; e que tenha algo que faz falta aos grandes em Portugal, que jogam mais de 90 por cento do tempo em ataque continuado: presença na área contrária.
O jogo de hoje com o Casa Pia será um bom aferidor do que vai no pensamento de Roger Schmidt, que deve ser o primeiro dos insatisfeitos com aquilo que a sua equipa tem produzido."

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