"Não me convence este súbito ímpeto saudita na atração de estrelas do futebol para o campeonato do seu país. Tendo, talvez preconceituosamente, a achar que se tratará de um brinquedo novo ou de uma ostentação ocasional de riqueza e poder. Reconheço, no entanto, que a incógnita existe.
Será, como acredito, um epifenómeno, ou estaremos, pelo contrário, a assistir à edificação de uma liga que se poderá constituir como uma séria ameaça ao modelo vigente, cujo poder financeiro é centralizado na UEFA e, cada vez mais, na Premier League?
As movimentações são, contudo, suficientes para levar o presidente da UEFA a reagir, desvalorizando o projeto saudita e comparando-o com o exemplo da China, há uns anos, hoje quase sem expressão.
Porém, as declarações de Ceferin foram infelizes. Se o dinheiro jorra do chão e parece inesgotável, não há megalomanias, mas ousadias. E muito menos há estratégias que não possam ser corrigidas.
Hostilizar a aposta saudita pode ser contraproducente. É quase como o muito infantil e absurdamente eficaz "não és homem, não és nada" dirigido a alguém que se predispõe a investir (antes de verificadas as habituais derrapagens) 500 biliões de dólares na organização de uns Jogos Olímpicos de Inverno.
Além disso, pode ser um tiro ao lado atribuir a motivação saudita à evolução do seu futebol - podem simplesmente querer, para pavonear-se, uma liga com os melhores jogadores. E menos avisado me parece assumir que os futebolistas privilegiarão sempre os aspetos desportivos em detrimento dos financeiros. Como se o eufemismo mais comum no futebol não fosse aquele do "projeto muito interessante" usado por jogadores para justificarem uma transferência que envolve um aumento brutal do salário.
Termino com uma ideia ainda no ar: Quando os clubes se virem forçados a criar uma Superliga Europeia (com ou sem UEFA), qual a probabilidade de grande parte do investimento ser saudita? E uma convicção: a verdadeira ameaça ao status quo reside nos Estados Unidos (numa próxima crónica)."
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