"Uma coisa é jogar de estádio cheio, com claques, faixas e todo o tipo de apoio. Outra coisa bem diferente é jogar
num estádio vazio...
O futebol voltou, depois de muitas ponderações e considerações, e o que temos visto em Portugal é que os dois grandes estão a jogar bastante mal. Não vou agora tecer comentários futebolísticos mais técnicos à prestação das equipas, mas esta é uma verdade mais ou menos consensual que trouxe até alguma emoção à disputa pelo campeonato.
A verdade é que já não estavam a jogar grande coisa antes da covid, mas esta paragem e o facto de termos hoje jogos à porta fechada, estão a ser usados como desculpa para os maus resultados e exibições bastante duvidosas.
O futebol sempre foi de facto um território de paixão, mais do que um desporto, um território que unia as pessoas (mesmo havendo rivalidade), que criava comunidades, sentimento de pertença, alegria e capacidade de mobilização.
Víamos adeptos que quase davam a vida pelos seus clubes, numa relação de dependência e às vezes fanatismo até preocupante, percebíamos a onda de apoio e até de sacrifício que adeptos faziam pelos seus emblemas. E mesmo a um nível mais ‘normal’ víamos como as famílias se uniam para ver um jogo, como os amigos combinavam algo especial e como pais e mães investiam nos seus pequenos talentos e os punham também a jogar e fazer parte deste universo.
O que nós percebemos com todo este novo contexto – se é que já não o sabíamos – é que de facto os adeptos são muito mais importantes para os clubes do que poderíamos imaginar. Não só pelo lado financeiro – com lugares anuais, merchandising, bilhetes, tours, museus, entre outros – mas pelo lado emocional e pela importância que têm no próprio desempenho dos atletas.
Uma coisa é jogar de estádio cheio, com claques, faixas e todo o tipo de apoio. Chegar a um estádio e ver o rebuliço da entrada, a paixão dos adeptos, as cores, o barulho, as músicas. Outra coisa bem diferente é de facto jogar num estádio vazio. Os jogadores queixam-se, os adeptos queixam-se e o futebol não é o mesmo.
Sabemos que há normas de saúde a cumprir e que vivemos tempos estranhos, mas o futebol assim não convence E não é o mesmo para mim, fiel adepta, mas também não é o mesmo para as marcas, que tanto investem neste território de paixão e se veem hoje sem público. É certo que há o jogo e que se tenta de alguma forma recuperar a normalidade, mas o futebol é muito mais do que temos hoje.
E sendo um dos territórios com mais potencial de comunicação do mundo, exactamente pela força que tem e pelo lado mais apaixonante que o define, é importante que se mantenha a sua essência e que ele volte a unir pessoas, a gerar momentos inesquecíveis e a criar memórias que passam de geração em geração. E a justificar também os avultados investimentos que nele são feitos e que são tão importantes para tantos sectores.
Hoje sentimos o futebol parado, ainda que tenha recomeçado.
E também aqui é urgente que se volte a alguma normalidade... os atletas precisam, os adeptos agradecem e as marcas voltam a ter uma plataforma única para comunicar com os seus fãs.
Pode ser que assim se acabem as desculpas e se possa voltar a ver, entretanto, bom futebol."
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