"Fez três anos que Luís Filipe Vieira teve uma afirmação muito polémica e que foi manchete em A Bola. Afirmou ele: «Estamos dez anos à frente da concorrência»
O comité executivo da UEFA, na reunião da última quinta-feira, anunciou uma mão cheia de nada em termos de medidas concretas para combater a influência da pandemia no negócio do futebol. Pelo contrário, assumiu a derrota e, no limite, reconheceu às federações liberdade para decidirem em função das orientações recebidas das autoridades de saúde dos respectivos países.
Por cá, o Sporting chegou a um entendimento com o plantel para a redução dos vencimentos em 40 por cento nos meses de Abril, Maio e Junho, no caso de não haver mais competição esta época, com promessa de devolução de 20 por entro se o campeonato recomeçar, paga em duas prestações de dez por cento, a primeira em Dezembro deste ano e a segunda em 2021. Entretanto, ficou a saber-se ainda que, por causa do coronavírus, a administração leonina está a trabalhar na revisão do orçamento 2020/2021, que deverá baixar dos 70 milhões inicialmente previstos devido à contratação do Ruben Amorim. Em concreto, haverá menos dinheiro para «aplicar noutras aquisições ou noutro investimento», conforme esclareceu o administrador Salgado Zenha (A Bola de 22 de Abril).
Nesse mesmo dia soube-se que a equipa técnica do FC Porto aceitara o corte nas remunerações, já partir deste mês, em 40 por cento, enquanto as competições não forem retomadas. No sábado, A Bola noticiou que idêntico acordo fora alcançado com o plantel e que o atraso no entendimento com os jogadores ficara a dever-se a divergências sobre o recebimento da diferença, que deverá ser feito assim que for garantida a entrada na Liga dos Campeões.
Nesta última semana, de terça a terça, o Benfica também foi notícia, mas em contramão ao sentido de leões e dragões. Na quarta-feira (dia 22), foi divulgada o teor de uma carta de Luís Filipe Vieira às casas e associados do clube. No essencial, o presidente encarnado quis dirigir uma palavra de conforto aos sócios («a alma deste clube») e expressar o reconhecimento pela acção das Casas do Benfica («exemplo de solidariedade com as suas comunidades locais»).
Vieira apelou à união do universo benfiquista em momento particularmente severo através de uma mensagem de confiança e de esperança, mensagem confirmada no dia seguinte com a notícia do pagamento na totalidade à estrutura profissional do futebol e com a informação de que eventual revisão salarial apenas será colocada em cima da mesa a partir de altura em que não se vislumbrar outra solução, o que, por ora, não é o caso. E não é porque, como explicou Domingos Soares Oliveira, o administrador executivo da SAD e CEO do grupo Benfica, mesmo em tempo de muitas sombras, a marca está bem preparada e só por isso lhe foi possível reembolsar os investidores do empréstimo obrigacionista 2017-2020, no valor de cerca de 50 milhões de euros, «no meio da maior crise que cada um de nós já viveu».
Domingos Soares Oliveira comunicou ainda que o Benfica reduziu a dívida bancária para «valores quase históricos» e tem em caixa 50 milhões de euros, o que lhe permite olhar em frente com «uma confiança moderada», confiança essa que é sustentada pela condição económico-financeira de águia, com suas disponibilidades de tesouraria, mas, paralelamente, com as reservas que se impõem na medida em que ninguém sabe o que «o futuro nos reserva».
O Benfica é o único que mostra capacidade para resistir aos efeitos da pandemia e é essa estabilidade que irrita, os seus adversários por verem nele, mesmo não o querendo admitir em voz alta, o mais forte de todos. É o maior dos grandes e, devido a essa evidência, a figura de Luís Filipe Vieira é tão massacrada: pelos rivais externos, por terem percebido há muito que enquanto ele tiver saúde e vontade será muito difícil travar a ascensão da águia, e também pelos internos, os quais, sentindo uma irreprimível atracção pelo seu lugar, mas não podendo ignorar a magnífica obra edificada, se agarram à demora do futebol profissional em recuperar a hegemonia que o FC Porto lhe roubou.
É o único argumento, embora falacioso, que poderá gerar incómodo entre família encarnada, apesar de na última década se ter vindo a consolidar essa recuperação: Benfica, seis campeonatos e FC Porto, quatro, nos últimos dez anos, e Benfica cinco e FC porto um nos últimos seis.
Pode parecer pouco aos mais agitados, mas é um inequívoco sinal de mudança, além de não ter sido por falta de condições de trabalho ou de défice de qualidade dos plantéis que o Benfica falhou os títulos de 2012 e 2013, no tempo de Jorge Jesus (excesso de vaidade), de 2018, com Rui Vitória (fraca ambição), e, muito provavelmente, o de 2020, com Bruno Lage (fala de tarimba). No total foram três campeonatos deitados à rua e um quarto em vias disso. Dizia o professor Medeiros Ferreira que todos os treinadores são carprichosos, o problema é que esses caprichos, geralmente, saem caro aos clubes.
Fez agora três anos que Luís Filipe Vieira teve uma afirmação muita polémica e que foi manchete na edição de A Bola de dois de Março de 2017. Afirmou ele: «Estamos dez anos à frente da concorrência».
Não sei se os anos serão tantos, mas o Benfica está muito à frente. Sobre isso não tenho dúvidas."
Fernando Guerra, in A Bola
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