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terça-feira, 28 de janeiro de 2020

A falta de unidade interna no dragão

"A parte mais surpreendente do perturbado e perturbador discurso de Sérgio Conceição, após a derrota em Braga, é a que se refere à falta de unidade no clube, fora do grupo de trabalho. Tanto mais que é perfeitamente claro que se mantém um clima de empatia e de confiança entre o treinador e o presidente do FC Porto.
Daí que não seja surpresa em Pinto da Costa tenha dado um imediato voto de confiança a Sérgio, quando este decidiu pôr o lugar à disposição.
Mas se a falta de unidade interna não é no grupo de trabalho e se também não existe na relação entre o treinador e o presidente, então, fica claro que a falta de unidade de que fala Conceição não atinge, apenas e só, o treinador, mas também o presidente Pinto da Costa. E isso, sim, é novo no FC Porto, onde o extenso mandato presidencial sempre conheceu um carácter de linha única e decisão unipessoal.
De facto, alguma coisa de verdadeiramente importante está a mudar no Dragão. E se aqueles que mais se perto conhecem a realidade do clube, e da sua SAD, não verão nas declarações do treinador razões especiais de admiração, pelo menos importa considerar que a grande novidade é a de vermos um clube que nos habituou a ter paredes de betão, à prova de luz e de som, a ter, agora, pelo menos, uma ampla janela de frágil vidro.

Não sei se, em função desta súbita, embora honesta, originalidade, Sérgio Conceição terá longo futuro no FC Porto. É verdade que tem sido o homem certo no lugar certo, conseguindo verdadeiros impossíveis, mas os seus inimigos internos não lhe vão perdoar que tenha sido um homem da casa a colocar o dedo na ferida."


Vítor Serpa, in A Bola

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