"Gabriel Appelt Pires dispensa os apelidos em contexto profissional. Como Cher, basta o primeiro nome para o reconhecimento geral, enquanto que tal como o homónimo, O Pensador, constrói os melhores versos do futebol benfiquista. Gabriel inspira-se na música para explanar todo o seu talento nos relvados e para construir uma marca própria de qualidade comprovada, a cada jogo na Luz.
Com 18 anos, e enquanto sambava pelos relvados do Cariocão com a camisola do Resende FC, a Juventus aparece na sua vida. Os italianos aparecem aos portões d’O Trabalhador com uma proposta choruda: dois milhões de reais para levar Gabriel e o irmão, Guilherme.
O dinheiro chega e apenas a burocracia impede o segundo de seguir viagem, deixando o jovem Gabriel à mercê do seu futuro: a adaptação não corre bem, a carreira vai-se pautando por uma enchurrada de empréstimos na Série B, sem perspectivas de evolução durante 4 anos. O histórico Pro Vercelli foi o primeiro a acolher o garotão, seguido por Spezia, Pescara e Livorno, até o Leganés se chegar à frente.
É nos arredores de Madrid que Gabriel explode definitivamente para o futebol de alto nível, fruto da aposta de Asier Garitano. Os métodos do actual treinador da Real Sociedad elevaram o jogo de Gabriel a outro nível, que motivou a mudança para Portugal a troco de quase 10 milhões de euros no Verão passado.
A presença de Gabriel no onze titular do Benfica é sinónimo de sucesso: na Liga NOS, dos 17 jogos em que foi utilizado, 15 contam-se por vitórias e os 2 restantes por empates. Com ele em campo, em território nacional, o Benfica perde apenas em Alvalade e em Braga, frente ao Porto, na meia-final da Taça da Liga. São 27 jogos, 23 vitórias. A
disponibilidade física de Gabriel, aliada à sua elevada qualidade técnica e forte sentido tático, fazem dele a peça essencial na máquina de Bruno Lage, onde assenta arraiais no duplo-pivot, ora acompanhado pelos recuperadores de bolas Samaris e Florentino.
O seu papel preponderante na transição defensiva e na reacção à perda da bola reflecte-se depois no bom funcionamento atacante, como comprovam os 69 golos marcados com ele campo nos 27 jogos nacionais, traduzindo-se numa média de 2,5 golos por jogo.
E se em contexto nacional é notório o peso do centrocampista na equipa, na Europa o caso muda de figura. Na caminhada nada famosa de 2018-19, Gabriel foi titular nos jogos decisivos ás aspirações encarnadas, não obtendo por isso um bom score.
Se Rui Vitória preferiu a titularidade de outros intervenientes nas vitórias contra o AEK, em Amesterdão e Munique sentiu a obrigação de utilizar o seu melhor médio: Gabriel é peça no tabuleiro encarnado na luta pela qualificação, não conseguindo evitar a derrota tardia na Holanda ou o descalabro alemão. Dessa forma, e com a rotatividade imposta por Bruno Lage na prova secundária, a estatística de Gabriel é francamente pobre em contexto internacional.
O seu principal handicap enquanto atleta de alta competição passa pela sua apetência para lesões, onde só no Benfica já perdeu 14 jogos, divididos em fases distintas. Os seus joelhos já se manifestaram por duas vezes, com a mais problemática sendo já em Portugal.
A lesão do final da época passada levou-o a ficar de fora por nove jogos, ficando assim excluindo da fase de todas as decisões, numa altura que se sentiu sobremaneira a sua ausência no miolo. Mas é no principio da aventura europeia que o seu corpo se ressente mais, com duas graves lesões em Itália. O perónio de Gabriel manifesta-se primeiro ao serviço do Pro Vercelli, onde fica de fora três meses, para um ano depois voltar ao mesmo martírio.
Com toque de bola diferenciado e fruto das aprendizagens tácticas em Itália, Gabriel tem em 2019-20 a oportunidade de se assumir fora de portas, a nível Champions, como médio de eleição. O sistema onde está inserido é o ideal para a sua forma de jogar. Lage não vê nele um box to box, como o via Rui Vitória, mas antes o arquitecto de todo o projecto que, nas palavras da direcção, se intitula de Benfica Europeu."
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