"Há qualquer coisa de maravilhoso numa vitória por 1-0. Há um controlo de esforço, uma aparente certeza de eficácia que parece tornar as equipas mais fortes do que quando goleiam. Um 1-0 conseguindo perto do fim deixa-me a crer que a equipa estava só à espera de contar o final da piada, de que sempre soubera como tudo aquilo iria terminar. Já um 1-0 logrado no início, que se aguenta até final, transmite-me uma sensação de superioridade porventura ainda maior, pois se por um lado é implacável na forma como deixa um empate ali tão à mão do outro - o outro que no final perderá na mesma e com isso sofrerá ainda mais, porque achava que podia ter outro destino que não aquele -, por outro lado o 1-0 conseguido cedo é também misericordioso, na medida em que inflige tão-só o mal necessário.
Grandes treinadores, é bem verdade preferiam vencer por 5-4, desde logo Cruyff, que o disse exactamente assim, preferindo sempre o desfrute, e por isso lhe fizeram esta semana uma estátua em Camp Nou. Em todo o caso, outros grandes técnicos conduziram campanhas históricas de 1-0: o Chelsea de Mourinho em 2004/2005, com 11 vitórias assim na liga inglesa.
O treinador do Atl. Madrid, Diego Simeone, é um treinador de 1-0, que por isso admiro. Os madrilenos gastaram €120 M em João Félix e venceram os dois primeiros jogos da liga dessa forma. Desde que orienta os colchoneros, a partir de 2011/2012, 78 das 265 vitórias que conseguiu foram por 1-0, 29,4%. Pode facilmente entender-se isto como pensamento defensivo, medroso, incapacidade para mais ou negação do sentido do jogo claro que pode. Mas no 1-0 reside um controlo de emoções, uma capacidade para fazer apenas o que tem de ser feito, por fácil ou difícil que seja, nem mais nem menos. Se o futebol é magia, a ilusão e a fantasia, o 1-0 é a ciência que tudo suporta. Golear é a bonita travessia de barco até à margem do triunfo. O 1-0 é usar a ponte."
Miguel Cardoso Pereira, in A Bola
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