"Não é vontade de embirrar. Trata-se apenas de uma dúvida impertinente. A que propósito foi a Selecção Nacional para o varandim da Câmara Municipal do Porto mostrar o troféu da Liga das Nações aos transeuntes da Avenida dos Aliados na noite do último domingo? Sendo a selecção, por definição, "nacional", que ideia foi aquela de a conduzir de autocarro até à sede do poder autárquico que rege a cidade anfitriã da final do torneio para, à pala do esforço de Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva & Companhia, oferecer uma série de imagens festivas ao portefólio de Rui Moreira, o "mayor" da cidade?
Tivesse a final da Liga das Nações sido disputada numa qualquer outra cidade do país e alguém imagina os paços dos concelhos de Braga, Guimarães, Aveiro, Coimbra ou Faro abrirem as portas e as varandas à vitoriosa equipa nacional para deleite institucional e jornada de marketing dos respectivos autarcas?
Permita-se, portanto, a opinião dos que consideram como um despudorado abuso ao que aconteceu no domingo à noite nas instalações da Câmara Municipal do Porto, depois de a Selecção Nacional ter vencido com categoria a sua congénere holandesa no jogo decisivo dessa nova competição da UEFA, cujo objectivo, discutível como são todos os objectivos, é rentabilizar ao máximo a preparação das equipas nacionais europeias, transformando os múltiplos clássicos "particulares" em jogos a sério e em bilhetes e em transmissões televisivas com preços a sério.
A Liga das Nações é, para já, uma espécie de Taça da Liga da UEFA. Uma novidade, uma prova acabadinha de estrear que vai precisar do seu tempo até ser levada a sério pela indústria em geral. este facto, indesmentível, não retira brilho nem, muito menos, mérito aos jogos que a equipa de Fernando Santos realizou com a Suíça e com a Holanda.
O futebol de Santos não será o espectáculo mais divertido e empolgante do planeta, mas o importante nestas coisas é que o nosso engenheiro já soma dois triunfos em duas finais europeias e isso faz dele, e com justiça, o treinador mais respeitado do burgo.
A ida da comitiva vencedora da Liga das Nações à Câmara Municipal do Porto teve, no entanto, aspectos bastante curiosos se nos lembrarmos como tem sido uma frustração para Rui Moreira a flagrante escassez de festejos futebolísticos registados sob o seu patrocínio desde que assumiu a presidência daquela autarquia. De deserto em deserto por razões locais, a multidão lá desaguou finalmente na Avenida dos Aliados por razões nacionais. Uns para vitoriar os seus heróis de modo global e outros, ainda entristecidos por questões menores, apenas para poderem contar aos netos que viram, o João Félix a festejar um título na varanda da Câmara Municipal do Porto. Sobre esta dor pertinente é que não há dúvida nenhuma."
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