"Foi só um jogo, é verdade. E ninguém melhor do que os benfiquistas - que viram Vitória despedido uma semana depois da goleada ainda mais gorda que a de ontem - sabem que nenhuma vitória, por mais entusiasmante que seja, é por si só sinal de retoma. Mas a verdade é que Bruno Lage (que o Benfica apresentou como provisório e não interino, o que talvez não pareça mas encerra algumas diferenças) ganhou, pelo menos, direito ao benefício da dúvida. Não tanto por ter vencido, mas pela coragem que demonstrou. Ser-lhe-ia fácil, escudando-se no facto de ter apenas três dias para preparar a recepção ao Rio Ave, defender-se e mexer o menos possível, esperando que a qualidade dos jogadores revolvesse, por si só, os problemas. Mas não: recuperou Ferreyra; fez regressar a águia ao 4x4x2, sistema com que o Benfica ganhou tudo o que havia para ganhar em Portugal - e que, como o próprio Lage afirmou no final da partida, se enquadra muito melhor num plantel que conta com quatro avançados; colocou João Félix na posição em que o seu talento pode, de facto, atingir a expressão máxima.
Significa isto que Lage resolveu, com um estalar de dedos, todos os problemas do Benfica? Claro que não. As fragilidades da equipa continuam lá e ficaram, até, à vista em vários momentos do jogo. Mas o treinador provisório (ou não, logo se verá) só precisou de três dias para perceber o que Vitória nunca conseguiu perceber: que não chegavam promessas de mudança, o Benfica precisava, de facto, de mudar. E com esse feeling, como lhe chamou, criou também boas sensações nos adeptos, que lhe prestaram merecida homenagem, e, quem sabe, algumas dúvidas a Vieira, que tem uma decisão para tomar: encontra já um novo treinador ou dá a Bruno Lage a oportunidade de, pelo menos nos Açores, mostrar que o que se viu ontem não foi de um acaso?"
Ricardo Quaresma, in A Bola
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