"Fábio Veríssimo até seria merecedor de alguma condescendência, não se desse o caso de se ter distraído em regra com prejuízo para o Benfica
A polémica que envolveu a fase final da Taça da Liga foi apenas mais uma, não tenhamos ilusões quanto a isso. Vai ser preciso esperar por outra geração para avaliar os resultados dos esforços que estão a ser desenvolvidos no sentido de fazer do futebol aquilo que deve ser sempre: um espaço de convivência, uma festa!
Notam-se progressos sensíveis, apesar de tudo, de que estes três jogos foram exemplo. Cada vez mais estão identificados os promotores da discórdia e cada vez mais se conhece quem a espalha e quem dela se aproveita.
É importante que a Federação, superiormente presidida por Fernando Gomes, não esmoreça na sua cruzada, mas é pena que tenha de viver numa situação de confrangedor desapego por parte de actores que deveriam assumir papel crucial neste processo de mudança, em função das posições que ocupam. Não só não colaboram, como emitem até sibilinos sinais que apontam em sentido contrário; ou seja, deixar como está.
No inadequado estádio de Braga assistiu-se a três bons jogos, como períodos de excelente qualidade exibicional e competitiva. Houve espectáculo, empenho ilimitado de todos os artistas e, para que nenhum condimento faltasse, foi preciso recorrer ao frenesim dos penáltis para decidir o vencedor da prova.
Sobre o relvado foi tudo bom, ou quase tudo. Mais uma vez falharam as arbitragens e falharam de uma forma escandalosa: nem sequer permitiram, como é vulgar e costume, a utilização de desculpas esfarrapadas de tanto uso como errar é humano, ter de decidir no instante, ter más condições de preparação, etc.
No tempo presente, os árbitros já não podem queixar-se, sobretudo os internacionais, mas a verdade é que, como o erro não abranda, a primeira conclusão a extrair é a de que os dirigentes de sector andaram anos a iludir a opinião pública ao esgrimirem uma defesa que a realidade tem contrariado. Se as condições que lhes são proporcionadas melhoraram significativamente, por que motivo as interferências negativas nos filmes dos jogos e nos seus epílogos não abrandam? A questão é pertinente, e atribui-se esse desconchavo à falta de jeito ou à incompetência por parte dos homens do apito é o reparo mais suave que se lhes podem endereçar. Contudo, mais grave será se persistir o perigo de ainda haver por ali gente que se mantém fiel às piores práticas de um passado não muito distante.
É normal o adepto comum não dominar os contornos do VAR em toda a sua extensão. Estranhamente anormal, porém, é os árbitros não se entenderem, sendo certo que já tiveram tempo suficiente para esclarecerem dúvidas e agilizarem procedimentos.
Houve polémica, porque em dois jogos em dias seguidos e em situações praticamente idênticas foram tomadas decisões contraditórias. Exaltou-se o treinador do Braga (com a razão dele e que devemos compreender), o qual já se sentira lesado no jogo da Liga, na época transacta, em Alvalade.
Se neste Braga - Sporting, segundo os especialistas, o protocolo foi cumprido ao ser descortinada uma irregularidade no lance entre Dyego Sousa e Acuña, explique-se, então, a adopção de critério diferente no jogo da véspera em que a entrada de Óliver Torres sobre Gabriel, considerada à margem da lei pelos mesmos especialistas, não mereceu o mesmo cuidado na observação e análise por parte de quem estava comodamente instalado em Caxias, livre de pressão e com suporte tecnológico.
Igualmente negligente, foi o facto de o videoárbitro, numa situação regular, ter sujeitado o árbitro de campo ao desconforto de parar o jogo para rectificar uma informação enganosa. Terá sido um mau ida para Fábio Veríssimo, acontece a todos. Até merecedor de alguma condescendência não se desse o caso de, no mesmo jogo, como os factos demonstraram, se ter distraído em regra com prejuízo para o Benfica.
Carlos Xistra foi quem pagou a factura pela negligência do companheiro, o qual, entretanto, pediu para ir a banhos, como recomenda a prudência nestas circunstâncias.
A segunda fonte de polémica teve a ver com as atitudes excessivas do treinador portista, talvez atraiçoado pela sua bipolaridade comportamental: cordato, interessante e até inovador no discurso em cenários favoráveis, mas intolerante e agressivo quando o vento não sopra de feição.
Revela-se defensor de uma cultura de confrontação que em Portugal pode dar vitórias e títulos, mas não se recomenda. Rivalidade é outra coisa.
Em matéria de desanuviamento no futebol luso, Sérgio Conceição parece não trazer nada de novo, apesar de eu próprio ter acreditado que pudesse trazer.
(...)"
Fernando Guerra, in A Bola
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