"Apesar da imensa alma sadina, o Benfica somou três pontos sofridos mas inteiramente justos
Uns solidários, outros também
1. Aos 30 minutos, após um canto a favor do Benfica, um rápido e profundo contra-ataque do Vitória foi cortado in extremis por Zivkovic e terminado o serviço defensivo por Jonas. Este momento revelava o espírito de conquista e solidariedade com que os encarnados abordavam este jogo e o momento mais conturbado que vivem. E se os da casa, entrando em campo a respirar saúde e motivação, fruto de um ciclo vitorioso, atacavam a partida com as armas que os caracterizam - autênticos guerreiros, fortes e individuais marcações no momento defensivo, jogo directo - referência Mendy - e assente nos seus vigorosos avançados no momento de agredir à baliza do Vlachodimos, com segunda vaga de médios e laterais a chegarem rápido às segundas bolas, e exploração máxima dos esquemas tácticos. Este era o retrato da equipa de Lito Vidigal, sempre disponível para os duelos individuais e agressiva na busca da bola, muito escondida pela superior qualidade técnica dos homens de Lisboa. O Benfica procurava um jogo de atrair os adversários e depois variar rapidamente o centro de jogo buscando criar desequilíbrios na forte e robusta estrutura defensiva sadina, e as marcações individuais encetadas por estes eram enganadas sempre que as movimentações constantes dos interiores do Benfica e as permutas promovidas por Grimaldo, Zivkovic e Gedson - principalmente estes - fintavam a filosofia defensiva idealizada pelo treinador da casa e criavam perigo no bloco defensivo contrário. Uma primeira parte pejada de faltas, principalmente pela dimensão física promovida pela equipa da casa, deixava pouco espaço para vistosas jogadas, e só um momento de inspiração do lado esquerdo do ataque dos forasteiros, concluída de forma superior pelo pistoleiro do costume, dava vantagem ao conjunto que naturalmente mais assumia o controlo do jogo e utilizava como método preferencial, para visar a baliza contrária, o ataque posicional, mais elaborado e ligado. O Vitória saía rápido em profundos movimentos de transição ofensiva sempre que conquistava a bola, e Mendy e Cádiz colocavam sempre as águias em sentido.
De não 'fechar' ao acreditar
2. Para a segunda parte, Lito entendeu que faltava algum perfume à sua equipa e um pouco mais de critério no momento de pensar o momento ofensivo, e para tal fez entrar Rúben Micael. A partida mantinha a toada da primeira parte, com os homens de Rui Vitória a serem donos da bola e a criarem algumas oportunidades para ampliar o marcador - Rafa era o principal perdulário -, mas o espírito bélico dos vitorianos não dava descanso a Jardel e seus parceiros e a incerteza persistia. O papel de íman de Jonas a pivotear todo o jogo ofensivo da sua equipa, baixando e pensando de forma superior esse momento, conferia qualidade e tempo ao ataque da sua equipa e dificultava a vida aos sadinos. Como o tempo escorregava e o resultado não se alterava - os desperdícios do Benfica não permitiam fechar o jogo - Rui Vitória e Lito procuravam através de mexidas a partir do banco trazer algo novo ao jogo. A entrada de Zequinha e o recuo de Éder Bessa davam um cariz mais ofensivo ao seu conjunto, e Gabriel e Seferovic eram as armas que Rui Vitória colocava em campo de batalha para explorar a exposição espacial concedido pelo empertigado Vitória e agredir com critério a profundidade. Era o novo desafio colocado ao dominador Benfica. O perigo espreitava com insistência a baliza de Vlachodimos - negou um golo a Cádiz - e a incerteza ganhava corpo e teimava ficar até ao fim. A impressão de que a entrada de Alfa Semedo (para garrotar as investidas alheias) pecava por tardia crescia à medida que o assalto final dos vitorianos se acentuava. Apesar da alma sadina ser imensa e inquebrantável, o Benfica manteve a vantagem e somou três pontos sofridos mas inteiramente justos, num jogo intenso apesar de nem sempre bem jogado."
Daúto Faquirá, in A Bola
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