"A NHL, a liga norte-americana de hóquei no gelo, confirmou a posição na controvérsia que dura há meses: os jogadores da liga não vão, mesmo, aos Jogos Olímpicos de Inverno de 2018, na Coreia do Sul. A instrução, note-se, não é só para estado-unidenses e canadianos, vale para suecos, russos, checos, finlandeses, alemães, suíços, todos.
Muitos jogadores estão susceptibilizados com a impossibilidade de representarem o país deles, como Henrik Lundqvist, dos New York Rangers e da Suécia: «Muito desapontado», twittou. A NHL só vê riscos e prejuízos; o COI, reagindo, ameaça retirar o hóquei no gelo.
Pode isto abrir precedentes? No futebol é impossível, por directiva da FIFA que impede os clubes, ou ligas, de vetarem chamadas nacionais, contudo o que se passa na NHL parece-me, estranhamente, visão de futuro. Neymar, por exemplo, descansou neste defeso, mas tivera Copa América-2011, JO-2012, Confederações-2013, Mundial-2014, Copa América-2015 e JO-2016. Quem tem capacidade para o comprar por 222 milhões terá um dia autoridade para o impedir de ir, pelo Brasil, a tudo isto? Ou valeria ele o mesmo se não tivesse representado o país nas ditas ocasiões?
Por outro lado, há quem possa ir aos Jogos - pela primeira vez - e não queira. O surf vai a Tóquio-2020 e os surfistas estão rejubilantes, mas o skate também vai e os skaters não querem saber. Bob Burnquist, influente praticamente brasileiro, não acolhe a ideia e disse à Folha de São Paulo: «Não é a nossa identidade. Nem é desporto, é um estilo». Outras lendas da modalidade, como Tony Alva, também censuram a ida aos Jogos, vendo-a como cedência, sell-out.
A atitude da NHL é um sinal do mercantilismo desportivo moderno; a do skate é também uma marca da contemporaneidade, mas na busca de sentido, no reacendimento de valores. Por isso, ainda que por caminhos e motivações diferentes, concordam no essencial: não vão."
Miguel Cardoso Pereira, in A Bola
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