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terça-feira, 8 de agosto de 2017

Nova época, novo jogo

"Celebrar emotivamente um golo batoteiro ou moderadamente um golo limpo?

A época oficial arrancou em força no fim de semana. Como sempre acontece nesta altura, a curiosidade dos adeptos é enorme: todos querem saber se os reforços têm ou não talento, se as equipas estão ou não preparadas e se os adversários são ou não mais fortes. Mas este ano há um factor adicional que tem suscitado a atenção de todos: a introdução das imagens no apoio à decisão.
Nas partidas a que assistimos - Aveiro e Vila das Aves - as coisas correram conforme as previsões: intervenções raras (apenas uma nos dois jogos) e que não alteraram a escolha inicial do árbitro. O único momento de consulta (demorou cerca de um minuto), ocorreu num lance em Aveiro, em que o braço esquerdo de Salvio - colocado no interior da sua área - tocou na bola. O Artur entendeu ser uma acção lsegal mas por ser uma situação prevista no protocolo (de penálti/ não penálti) o Jorge Sousa decidiu, bem, confirmar a legalidade da jogada. E confirmou. Ou melhor, entendeu não haver motivos para a alterar. Porquê? Porque o princípio subjacente à alteração de uma decisão é que ela esteja totalmente errada. É que ela seja tão errada que nenhuma pessoa razoável, a ver as imagens, possa ter dúvidas sobre essa falha. Por isso, em todos os casos em que não exista essa certeza, valerá sempre a primeira decisão.
Quer isto dizer que, caso o Artur tivesse entendido que o lance em questão devia ter sido penalizado com penálti, o VA não devia, na mesma, contrariar essa indicação. Porque o lance é subjectivo e permite outras interpretações. Porque não há equívoco taxativo. Porque podem existir outras leituras. E aí vale sempre o que pensa o homem do apito. Para esta discussão, é irrelevante se uns entendem que é penálti ou se outros acham que não. Relevante é o facto da opinião não ser unânime. Este princípio aplica-se igualmente às outras situações do protocolo (golos, vermelhos directos e troca de identidade disciplinar): também aí, sempre que o erro não seja evidente nem grosseiro, a primeira decisão deve prevalecer.
Se tivermos agora em conta todos os outros lances (não previstos para intervenção), a situação ainda é mais realista. O VA não os pode rever, mesmo que esteja seguro que houve erro do colega. Imaginemos, por exemplo: pontapés de canto mal assinalados, lançamentos laterais mal executados, pontapés livre por marcar ou mal avaliados, amarelos por exibir ou segundos amarelos mal mostrados. Em qualquer um destes casos (e há outros), não há nada a fazer. Não importa se essas falhas sejam óbvias ou se resultam em golo. Agora imaginem a frustração que um videoárbitro não sentirá ao ver o colega a cometer um erro grave e não poder ajudá-lo?
Vai acontecer. E quando acontecer, pensem que a culpa não é de quem está atrás dos écrans. É, quando muito, do rigor inicial do protocolo. O International Board quis arrancar com este projecto com todo o cuidado. Por isso, numa fase inicial, escolheu filtrar ao máximo a videointervenção.
Na verdade, há a perfeita noção de que muitos dos erros continuarão, mas preferem focar naqueles em que podem ser mais eficazes, com a menor intervenção possível. E o certo é que golos obtido em claro fora de jogo ou após faltas evidentes sobre os defensores, as agressões e actos de violência nas costas do árbitro, os penálties claríssimos por assinalar ou os jogadores expulsos por engano dificilmente voltarão a acontecer. E pelo menos nesses o erro diminuirá drasticamente. A grande pergunta que todos devem agora fazer é: preferimos celebrar emotivamente um golo batoteiro ou comemorar moderadamente um golo limpo?
(...)"

Duarte Gomes, in A Bola

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