"Uma sugestão de metáfora para o campeonato, onde as emoções cultivadas ao longo da semana vêm ao de cima em meros 90 minutos
Três autocarros colocados lado a lado, com diferenças relativamente insignificantes de potência, velocidade de ponta, binário, e mais algumas daquelas características a que todos fazemos referência quando queremos parecer especialistas. Ou seja, três veículos imponentes na dimensão e na capacidade de transporte e com "performances" idênticas. Pelo menos antes de começarem a rolar... Imaginemos agora, ao lado dos poderosos veículos, três motoristas. Dirão os mais "aceleras" que tendo em conta tratar-se de veículos semelhantes, a diferença será feita pelo piloto. Nesta competição imaginária, o que interessa, porém, não é ser mais rápido ou chegar mais longe. Interessa, isso sim, convencer o maior número de passageiros a subir a bordo. Ganha o motorista que transportar mais pessoas mas para as convencer o trio dispõe apenas da capacidade de persuasão.
Como é evidente, a metáfora não corresponde à imagem actual da luta pelo título em Portugal - qualquer dos três veículos já fez parte do respectivo percurso e passou por mais ou menos imponderáveis, mais ou menos incidentes e até acidentes. O que conta, na verdade, é a importância do discurso e de como este pode persuadir os passageiros de que nada é tão grave ou inultrapassável como possa parecer ou de como, pelo contrário, um certo tom de lamento do motorista legitima receios ou descontrolo emocional naqueles que transporta.
Dentro de campo, quando se joga, é difícil (impossível?) manter a calma e a imparcialidade. Se a mensagem que vier de fora ao longo da semana, de quem é suposto ser condutor, acentuar sentimentos de injustiça ou de que se rema contra uma corrente demasiado forte, como pedir para ultrapassar essa maré? Como pedir, em especial nos momentos de aperto, cabeça para organizar e pontaria para finalizar?
A mensagem do motorista tanto pode criar um confortável refúgio como ser uma caverna assustadora."
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