"1. O futebol está corrompido em todo o mundo, a começar pela FIFA e pela UEFA (esta no que toca à Europa), a continuar pelos clubes e jogadores e a acabar pelos agentes-sanguessugas que em poucos anos proliferaram como erva daninha e enriqueceram como nababos. A intermediação sempre foi o melhor meio de exploração. E já não entro no capítulo do doping a que sempre foi poupado, porventura, imerecidamente. Alguém acredita na sua candura? Seja como for, a FIFA de Gianni Infantino não parece nada preocupada com isso, na medida em que já deu mostras de que o seu primordial objectivo não é lutar pela transparência mas sim pelo acréscimo exponencial do cash budget, de forma a duplicar ou triplicar os valores dos tempos de Blatter. À custa de quem? Dos clubes, claro. Para isso, pretende reduzir os campeonatos nacionais a um máximo de 18 participantes, a fim de ficar com datas livres para alargar a fase final do Mundial a 42 (!) países e a promover novas competições. O fito é captar mais dinheiro, sempre e só mais dinheiro. Parece-me um caminho ínvio.
2. Na UEFA do esloveno Aleksander Ceferin, as mudanças anunciadas vão no mesmo sentido. Pensava-se que, apoiado pelas Ligas espanholas e inglesa, pudesse discordar da implementação (a partir de 2018-2019) da nova Superliga há muito reivindicada pelo lobby Rummenigge (Bayern) e Agnelli (Juventus). Mas, afinal, avalizou-a e, para salvar a face, deu-lhe o eufemístico nome de Nova Liga dos Campeões com 16 (50 por cento) dos 32 clubes da fase de grupos desde logo capturados por Espanha, Alemanha, Inglaterra e Itália. Temo que Portugal, com estes novos critérios e coeficientes, saia seriamente prejudicado. Sem esquecer que temos vindo a cair a pique no ranking que define o acesso às provas europeias. Já só temos dois clubes vivos dos seis que alinharam à partida. Uma mortandade. Bastaram três anos para sermos ultrapassados por França e Rússia e para termos entrada directa na Champions de uma só equipa, o campeão."
Manuel Martins de Sá, in A Bola
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