"Jogou sete anos nos grandes rivais do Benfica, mas nunca escondeu a preferência pela cor vermelha. Duas vezes campeão nacional na Luz, era um jogador de ir-a-todas-a-dar-e-levar e fez imagem desse seu futebol guerreiro e combativo.
No dia 28 de Dezembro de 1975, o Benfica recebeu o Sporting para a 14.ª jornada do Campeonato Nacional. Nessa altura não havia cá «suspenses» à filme policial. O Benfica ganhava campeonatos atrás de campeonatos, haveria ganhar esse e também o do ano seguinte, os dois que nos interessam para este caso particular que envolve uma figura bem conhecida e um bom amigo, Romeu Fernando Fernandes Silva, o Romeu, que acabou por ser mais visto com a camisola do FC Porto e do Sporting do que com a de águia ao peito. Pouco importa. Romeu esteve duas épocas no Benfica, não jogou muito, é verdade, mas foi duas vezes campeão, primeiro com Mário Wilson, que o treinara em Guimarães, em seguida com John Mortimore, um caso raro de técnico prático e funcional.
Voltemos a Dezembro de 1975, três dias após o Natal, sim, que nesse tempo não se usava a desculpa das festividades para parar o futebol durante semanas a fio, como se faz hoje em dia num critério que ainda está para ser entendido por entes menos espertos.
O Boavista comandava o Campeonato com assinalável surpresa, treinador por José Maria Pedroto, que como se sabe dedicava um ódio muito intenso a Mário Wilson, chegando mesmo ao exagero de insultos racistas ao «Velho Capitão» quando este dirigia a Selecção Nacional. Romeu não tardaria a trabalhar com Pedroto no FC Porto, mas nessa tarde de Inverno estava na Luz vestido de encarnado.
Estreia sem golos mas contra o Sporting
Não se pode dizer que o jogo tenha sido entusiasmante - Da Costa falhou um «penalty» a favor do Sporting à meia-hora, mas foi certamente excitante para o jovem Romeu, nascido em Vila Praia de Âncora, no dia 4 de Março de 1954, tendo depois emigrado para Moçambique com a família, de onde só regressou em 1972. Aos 69 minutos, Mário Wilson lançou-o no jogo; substituindo Vítor Martins, o popular «Garoupa», juntando-o no meio-campo a Toni e Shéu, gente do maior máximo respeito. À frente deles jogaram Moinhos, Jordão e Nené.
Nessa época o Benfica marcou 94 golos no Nacional, mas nenhum ao Sporting na Luz. Por outro lado, em Alvalade marcou três,na segunda volta - dois de Nené e um de Jordão. Só que Romeu não assinou o ponto na equipa.
O «Ruivo» era um homem de raça, de antes quebrar que torcer, capaz de ir-a-todas-a-dar-e-levar como costumava dizer o Carlos Pinhão, mas demasiado novo para um Benfica cheio de craques, embora já sem Eusébio.
Na segunda época de encarnado vestido jogou um pouco mais, mas não o suficiente para se manter no plantel dos bicampeões nacionais (que ele também foi), regressando a Guimarães e ao Vitória, antes de quatro anos no FC Porto e mais três no Sporting, terminando a carreira no Salgueiros e no Amora.
Internacional por 11 vezes, Romeu é uma das figuras queridas do futebol português, estimado em todos os clubes pelos quais passou, arrastando consigo uma imagem de combatente e profissional de mão-cheia. Ainda passou pela prospecção do Benfica e foi várias vezes visto a comentar na Benfica TV, ele que nunca escondeu o seu benfiquismo a despeito de sete anos passados com as camisolas dos grandes rivais.
Volta e meia sentimos necessidade de relembrar alguém, de falar de um companheiro de muitos anos de futebol, cada qual no seu posto. É o que acontece comigo, nestas páginas que dedico à vossa infinita paciência. É como um abraço... Fica dado, que o Romeu merece."
Afonso de Melo, in O Benfica
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