"Ainda a Supertaça Cândido de Oliveira não tinha sido erguida pelo capitão do Sport Lisboa e Benfica, no relvado do estádio de Aveiro, já alguns órgãos de comunicação social de dedicavam à fútil contabilidade sobre a equipa portuguesa com mais «títulos». Para esses, pouco importou que o Benfica acabasse de conquistar o quarto troféu da temporada 2013/14, feito absolutamente inédito no nosso panorama futebolístico. O logro semântico («títulos») é uma tentativa ardiloso de aproximar o prestígio do Benfica a um clube mais modesto. Dito de outra maneira, é querer cotejar a equipa com maior número de adeptos em Portugal, a equipa com maior número de sócios pagantes do mundo, aquela que tem maior prestígio internacional, aquela que é uma marca da lusofonia, com um clube de muito menor dimensão.
Ainda assim, no que concerne a «títulos», não tenhamos dúvidas que o Benfica é a equipa mais gloriosa do futebol indígena. Há três competições oficiais em Portugal, Liga, Taça de Portugal e Taça da Liga. Em todas estas competições, o Benfica é claramente o mais vitorioso. Depois, há aquilo a que chamarei de troféu institucional (há outros troféus de maior dimensão como o Teresa Herrera ou a Eusébio Cup, por exemplo, mas que não são institucionais). Esse troféu institucional chamado Supertaça não passa de uma prova menor! O erro infantilmente orquestrado, mas que pegou no discurso futebolês, é a tentativa de juntar todas as provas ganhas pelos clubes e chamar-se-lhe «títulos», fazendo equivaler um campeonato nacional a uma supertaça. Só assim, pensaram, seria possível aproximar a história do FC Porto à do Benfica, uma vez que o rival tem vinte supertaças, mas está aquém do Benfica nas grandes competições nacionais. Imaginemos um clube que ganha o campeonato e as taças regionais, na perspectiva enganosa é mais «titulado» que um clube que ganhe apenas o campeonato nacional da primeira divisão. Se virmos bem, são dois «títulos» contra apenas um. Não é assim, senhores jornalistas?"
Carlos Campaniço, in O Benfica
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