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sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Schmidt voltou a fechar os olhos e a ir contra o muro


"Não é possível que o alemão não conheça a palavra pela qual o Salzburgo é conhecido

O Benfica era claramente favorito para os jogos com o Salzburgo – e continuará a sê-lo para a partida da Áustria; os jogadores e dirigentes da equipa da Red Bull já consideram o triunfo na Luz o maior da história do clube.
O Benfica era favorito e tinha alguém no banco que conhecia o Salzburgo de trás para a frente, por dentro e por fora. Podemos até dizer que foi mesmo um dos seus criadores, um dos pais da ideia. Sabia os seus pontos fortes e fracos. Ao contrário do que se passou na época passada, em que Roger Schmidt tinha a atenuante de não estar familiarizado com FC Porto, SC Braga e Sporting como principais rivais, desta vez conhecia bem os austríacos. E falhou rotundamente.
Qual é a palavra que mais se associa ao Salzburgo? Pressão! Não é de hoje, os encarnados não se sentem confortáveis quando são pressionados por adversários muito agressivos. E, numa segunda época, a equipa continua sem resolver uma equação simples: se a bola já não estiver lá, não há pressing que funcione. Os jogadores estão demasiado longe uns dos outros e não conseguem discernir a melhor decisão. À pressão responde-se com inteligência e uma boa tomada de decisão. No Benficaainda não se consegue jogar de costas e aguentar o pressing, não se sabe atrair para colocar a bola no espaço, a não ser quando se está no último terço e de frente para a baliza. Diante do Salzburgo foi saber perfeitamente o que ia acontecer e fechar os olhos a ver se não doía muito. Vou repetir: qual é a palavra que mais se associa ao Salzburgo?
Por sua vez, os austríacos pressionaram e escaparam à pressão. Nota-se que trabalham as duas ideias e, obviamente, encontraram fragilidades não resolvidas do outro lado neste início de temporada. O Benfica não recupera a bola como antes porque defende com outros e também defende com menos.
Schmidt continua a ser idolatrado na Áustria com pai de uma identidade; duelo com o Sturm mostrou boa forma do conjunto austríaco e questões por resolver na defesa Schmidt foi com o modelo da Liga para a Liga dos Campeões e deu-se mal. Na prova milionária, ter dois jogadores que praticamente não pressionam (um momento em que João Mário também não é especialmente forte) é muitas vezes fatal. Sobretudo sem Florentino em campo. Por muito que João Neves seja um jogador tremendo (e é, embora também ele ainda esteja a aprender a comportar-se com alguém constantemente em cima de si), o médio-defensivo é talvez o melhor futebolista em Portugal a ler as linhas de passe contrárias. É difícil entender porque não foi titular. Sabendo-se como se sabia o que o Salzburgo é.
Não sou dos que valoriza negativamente Aursnes a lateral. É uma ideia do técnico alemão e entende-se pela necessidade de pausa no meio de tanta verticalidade. Não foi por aí que os da Luz perderam, embora o norueguês tenha responsabilidades no segundo golo. Valorizo sim o excesso de risco e falta de definição no passe (Rafa tantas vezes, João Neves nos últimos minutos), erros a mais que facilitaram muito a vida dos austríacos. Quem poderia sorrir mais com um jogo partido?
Há um nome que sai fragilizado da Luz: Anatoliy Trubin. E muitos vão agora recordar Odysseas Vlachodimos como se fosse a última bolacha do pacote. Faz parte. O grego protegia-se melhor do risco, mas não seria solução a médio prazo numa equipa que quer crescer em determinados aspetos do jogo, nem aceitaria a condição de suplente. Sim, o ucraniano mostrou fragilidades já identificadas no jogo aéreo, que Vlachodimos não mostrava porque não saía de debaixo dos postes. É simples. Trubin vai ter de crescer rapidamente nesse aspeto, nem que seja porque faltam mais de três meses até janeiro. É hora dos responsáveis pelos guarda-redes mostrarem realmente o que valem.
Schmidt necessitará também de dar um passo natural na sua evolução. Tornar-se completo. Isso não significa mudar de identidade. Apenas, mais uma vez, mostrar inteligência.
O Benfica teve os seus momentos e algumas fases de domínio antes e depois da expulsão de António Silva, e falhou mais uma vez (também não é de hoje) na finalização - exibição igualmente portentosa de Schlager -, mas não pode agarrar-se à ideia de que foi melhor.
Talvez seja mais coerente e útil agarrar-se à de que não o soube ser."

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