"Foi Um Sorteio Favorável Às Águias?
Não está ainda encontrado o oponente dos encarnados na terceira pré-eliminatória da Champions, mas temos certezas: sairá do confronto entre Midtjylland e AEK Larnaca, 87º e 160º classificados do ranking europeu de clubes.
Os dinamarqueses eram o segundo mais complicado dos possíveis adversários, numa hierarquia imaginária liderada pelo Mónaco, 67º, que calhou frente ao PSV Eindhoven, naquele que se constitui como grande jogo da ronda.
O SL Benfica, humilde 27º europeu, seria favorito em qualquer dos cenários e esta dupla possibilidade dá-lhe boas garantias de sucesso, ainda que seja necessária cautela, mais não seja pelas circunstâncias competitivas de cada um dos jogos.
Os dinamarqueses já iniciaram, como habitual, o seu calendário oficial, estando num nível físico acima da maioria das equipas que só começam lá para finais de Agosto-Setembro; O AEK representa uma viagem de 9000km, ida e volta até Larnaca, desgaste evitável nesta fase tão prematura da temporada.
Os Lobos De Hering
Fruto duma junção amarga entre dois rivais eternos mas inconsequentes do futebol dinamarquês – o Ikast FS e o Herning Fremad -, o FC Midtjylland forma-se em 1999 com outra pujança competitiva, que seria definitivamente consolidada uma década depois quando o atual dono do Brentford, Matthew Benham, se tornou o sócio maioritário do grupo FCM Holding.
Estávamos em 2014 e no ano a seguir o clube é campeão pela primeira vez: sucesso mais retumbante não seria possível.
Desde aí, mais dois títulos (2017-18 e 19-20), a entrada na Liga dos Campeões (2020-21) e o desenvolvimento da própria academia e rede de prospecção, alargando influência até África, definindo clubes satélites (como o FC Ebedei) que lhe permitem dotar o característico futebol nórdico de outras competências, ao nível da técnica e criatividade.
Kjaer, Pione Sisto ou Onyeka – vendido ao clube-irmão Brentford em 2020 – são os melhores exemplos do produto saído da academia.
Olhando à última época, a tabela espelha bem o bom desempenho conseguido pelos homens de Bo Henriksen e a ganância ofensiva duma equipa que se organiza em 3-4-3. Segundo lugar final, a três pontos do campeão Copenhaga, e melhor ataque da prova, com 59 golos marcados em 32 jogos.
Evander, médio criativo brasileiro, foi o goleador (12 golos, 17 no total das competições) e assistente de serviço (9), ele que é a grande referência do conjunto e poderá já nem estar presente num eventual confronto com os encarnados, que o Galatasaray reforçou por estes dias o interesse e oferece algo entre os 10 e os 15M€.
Ao lado de Evander actua a grande promessa da equipa, eleita Jogador Revelação da Liga 21-22: Onyedika, um recuperador de bolas incansável que garante a estabilidade defensiva necessária.
Os três da frente podem ser considerados craques sem qualquer desprimor. Chilufyia, chegado a meio da temporada transata vindo Djurgarden por 2,5M€, oferece explosão; Dreyer, pelas posições habituais para um ‘9’, é tudo além disso – oferece apoio entre linhas, gosta de preservar a posse recorrendo a uma técnica assinalável, assumindo protagonismo no último terço como referência com bola no pé; e Isaksen, o menino prodígio que desponta agora nos séniores – é a coqueluche da massa adepta e outro com gigante margem de progressão.
Há um reencontro possível com Roger Schmidt, que com o PSV eliminou o Midtjylland da Liga dos Campeões 22-23: deu-se aí a descida a pique dos nórdicos, que acabaram por ser terceiros na fase de grupos da Liga Europa – atrás de Sporting de Braga e Estrela Vermelha – e nova queda, para a Liga Conferência.
O PAOK esperou-os no play-off para ganhar (2-2 ag e 5-4 nos penalties), avançando para a fase a eliminar e deixando os dinamarqueses sem Europa logo em Fevereiro: o que não constitui nenhum tipo de excepção face á história do clube, mas é um passo atrás na sua evolução no futebol uefeiro.
Ponto positivo e coincidência a favor para os benfiquistas: foi Roger Schmidt o único a ganhar na MCH Arena durante todo este percurso de 12 jogos – Braga, Celtic e PAOK sucumbiram perante os estridentes Black Wolves num dos topos do estádio construído em 2004 e que consegue albergar aproximadamente 12 mil pessoas, sete mil sentadas.
Portanto, Roger Schmidt ganhou na Arena mas SC Braga perdeu (3-2); se recuarmos 10 anos, o Vitória, o de Guimarães, empatou lá a zero, construindo assim uma insuficiente tradição nacional. Penderá o Benfica para a experiência do seu treinador ou para essas memórias portuguesas, caso visite os nórdicos?
“Mesmo Na Morte, Ele Foi Vitorioso”
Também originado duma fusão de dois clubes menores, o AEK Larnaca decidiu homenagear, no escudo, no lema e na sua abordagem ao desporto, Címon, um estadista ateniense que se opôs aos Persas durante toda sua a vida e que morreu em Cítio – que era como se chamava Larnaca em 450 aC – defendendo-se dum cerco por eles executado.
Morreu humilde e pela sua cidade-pátria, uma causa maior que o submete ao espectro do Estoicismo, que por coincidência seria fundado na mesma cidade por Zenão (de Cítio) uma centena de anos depois: e é com esta herança que o AEK se tenta sobrepor aos principais poderes da Ilha, como o APOEL, o Anorthosis ou o Omonia.
Desde 2014 que a equipa se dotou duma base espanhola de forma a contrabalançar o poderio técnico-tático desses três: a chegada de Thomas Cristiansen reformulou o clube e deu-lhe esse perfume castelhano, permitindo algumas classificações europeias.
A base espanhola espalhou-se pela administração, os sucessores de Thomas foram também eles espanhóis (o actual é Jose Luis Oltra, que construiu história maioritariamente na Segunda Liga Espanhola) e o plantel foi-se recheando de jogadores de médio plano da La Liga – aos quais se juntaram alguns portugueses como Luis Gustavo (no clube desde o ano passado) ou Rafael Lopes e Bruno Gama, que aterraram este Verão.
A principal estrela é o avançado Trickovski (que é o capitão e tanto pode ser o ponta-de-lança como jogar atrás de, por exemplo, Rafael Lopes), macedónio com passagens por Estrela Vermelha e Club Brugge.
A AEK arena é o palco onde se jogam as partidas caseiras. Conseguem entrar 7400 espectadores de forma a corresponder a todos os parâmetros de segurança que colocam o estádio como categoria 4 da UEFA – mas em jogos da Liga local a assistência é alargada para 13mil, por permitir lugares em pé.
Sem grande experiência europeia, será surpreendente se os cipriotas conseguirem passar o primeiro obstáculo e ainda mais extraordinário se conseguirem oferecer resistência ao SL Benfica durante 180 minutos – mas o futebol, sendo imprevisível, tem sempre espaço para tomba-gigantes, principalmente em fases tão recuadas e em competições a eliminar.
E o SL Benfica experimentou o sabor duma derrota desse género há bem pouco tempo, quando foi ao Toumba ser eliminado pelo então PAOK de Abel Ferreira."
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!