"Bruno Lage. Ele pode ter medido as palavras, como tem sido seu hábito nas situações em que tem de se pronunciar publicamente sobre o seu trabalho e as suas opções tácticas para o conjunto que dirige; mas, certamente, não haverá Benfiquista que não se tivesse revisto nas palavras e nos conceitos que expressou na véspera do jogo de terça-feita, com o RB Leipzig.
Ciente das dificuldades que se iriam deparar ao Benfica, mercê a que o seu staff procedera relativamente aos modelos usados pelos nossos antagonistas, Lage, apesar da contrariedade de não estar autorizado a viver mais de perto as emoções do jogo dado o castigo UEFA que tinha de cumprir, não hesitou em afirmar que se sentia confiante porque sabia que a Equipa estava mentalmente preparada para 'dar resposta à medida do passado do Benfica'.
Esta atitude, se não garanta nada, representava muito. E representa, antes do mais, a recusa da conformação e do fatalismo: significativa a interiorização da essência desportiva do Glorioso que mais galvaniza os adeptos no sentido da superação e da vitória. E o Estádio voltou a estar com a Equipa, mais uma vez. Da mesma forma que os nossos quiseram resistir até ao último minuto. Só que, perante um futebol essencialmente físico e fundamentado no desempenho corporal, o nosso futebol perfumado (e utópico?) acaba por perder inevitavelmente, se o confronto directo é geralmente interpretado pelos juízes com tolerância e permissividade.
Deve, em todo o caso, assinalar-se que neste primeiro encontro do Grupo não defrontámos apenas uma equipa convencional: o Benfica jogou com um dos ramos (literalmente, talvez, o mais 'energético'...) de uma poderosa multinacional que se implantou internacionalmente com toda uma nova formulação empresarial totalmente inédita, para fortalecer (ainda mais e num combate cada vez mais desigual) o mais dominador futebol do terceiro milénio.
Claro que, em tal contexto, só as palavras e os conceitos nem sempre chegam para, em campo, conseguirmos ultrapassar os nossos próprios limites. E num qualquer jogo de Champions, seja qual for, é sempre de completa superação individual que primeiro se trata, no confronto directo 'box-to-box', de modo a que na sequência do acerto de cada jogador se possa atingir o plano da consistente eficácia colectiva, necessariamente baseada na solidariedade e no esforço conjuntivo de que se sempre se fizeram as vitórias no tradicional 'football association'.
Por isso, no registo do futebol do futebol que sabemos jogar, me parece que a lição que Bruno Lage oportunamente recuperou da História do Benfica aos seus jogadores de hoje, foi, de facto, muito adequada. De outra forma, e sem hoje termos presente a superação de que fomos capazes nos tempos de Eusébio e de Coluna, mais dificilmente saberíamos ganhar os jogos que nos faltam."
José Nuno Martins, in O Benfica
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