"Os dias de reclusão dão-nos algum tempo para pensar e durante este fim de semana cheguei à conclusão que deveríamos todos exigir desde já o cancelamento de 2020.
Passemos já para 2021, 2020 não trouxe nada de bom. 2020 começou por tirar-nos Paulo Gonçalves lá na Arábia Saudita. O nosso peito apertou um bocadinho. O Paulo, além de tudo o que conseguia tirar de uma moto, era um bom homem, simpático, um companheiro para os colegas, um daqueles que não deixava ninguém para trás naquelas dunas.
Depois roubou-nos Kobe Bryant. Kobe, que nós achávamos invencível, imortal, intocável. E a filha, Gianna, com apenas 13 anos, futura melhor jogadora de basquetebol do Mundo - Vanessa, a sua mãe, disse que sim e eu acredito, porque não haveria de acreditar?
Agora, chegou este vírus, invisível, que ataca à traição, ao mínimo descuido, que se aproveita das nossas fragilidades, que nos fechou em casa, que não nos deixa abraçar os nossos pais ou dançar com os nossos amigos. Pelo caminho - e eu sei que neste momento isso é o menos importante, mas não deixa de doer - roubou-nos o Europeu, o Europeu pan-europeu, ironias das ironias. Então não é que no ano em que íamos ter um Europeu jogado em todo o continente vem um vírus que não nos deixa sequer ir a Badajoz?
Roubou-nos a emoção do final de época que se aproximava, roubou muito provavelmente a festa que pintaria de vermelho a cidade Liverpool. Trinta anos à espera de festejar um campeonato e vai mesmo calhar quando nos deparamos com um dos maiores desafios das nossas vidas, quando nos proíbem os abraços e os beijos e as cervejas trocadas quando se celebra a alegria imensa que é ver a nossa equipa ganhar.
A época terminará, está claro. Só não sabemos quando e em que condições e com quem a assistir.
E vai, inevitavelmente, roubar-nos os Jogos Olímpicos. Não porque não possamos ter esperança que em julho esteja tudo já mais controlado e haja uma qualquer normalidade que nos permitirá, sei lá, beber um copo numa esplanada com outras pessoas sem que tenhamos de nos cumprimentar com o cotovelo. Mas porque a preparação dos atletas está parada ou ferida de morte. Como poderá um nadador treinar sem piscina? Como pode um judoca preparar-se sozinho em casa? Como vai um jogador de voleibol aprender aquela jogada sem os seus companheiros ao lado?
E a nós, vai saber-nos ao mesmo um Europeu e uns Jogos Olímpicos disputados num ano ímpar?
Não sei a resposta para muitas destas perguntas. Só sei que, por mim, cancelava-se já 2020.
O Que Se Passou
Por estes dias muito pouco, a não ser cancelamentos de tudo e mais alguma coisa e notícias de atletas ou ex-atletas doentes.
Fora da orbita covid-19, e para quem segue o futebol americano, Tom Brady deixou meio mundo de boca aberta ao anunciar a saída dos New England Patriots, após 20 anos de glória. Vai jogar agora nos Tampa Bay Buccaneers."
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