Últimas indefectivações

terça-feira, 18 de junho de 2019

O Mundial dos sonhos delas

""Eh pá, se eu fosse tailandesa, já podia estar a jogar um Mundial".
Quando recebi esta mensagem, durante o primeiro jogo da Tailândia no Mundial feminino que decorre em França, ri-me. Sim, foi insensível (perdão), mas a minha amiga - também ela ex-jogadora - tinha razão: as tailandesas, ainda que estejam no 34º posto do ranking mundial (por comparação, Portugal é 30º - e recentemente ganhou 4-1 à Tailândia), não tinham qualidade suficiente para segurarem as campeãs mundiais e, por isso, foram atropeladas pelas norte-americanas, por 13-0, naquela que ficou para a história como a maior goleada de sempre em Mundiais femininos.
Os EUA não fizeram, obviamente, mais do que a sua obrigação - ganhar, querendo marcar mais golos, do princípio ao fim -, mas foi difícil, ainda assim, não sentir pena do underdog, que está no Mundial mas não tem, ao contrário do adversário, jogadoras 100% profissionais.
Foi por isso que, domingo, mesmo perdendo e mesmo já tendo havido golos bem mais espectaculares na prova, o golo de Kanjana Sung-Ngoen foi o mais emocionante do Mundial. A Tailândia já perdia por 4-0 com a Suécia, mas quando a capitã tailandesa marcou o primeiro golo da selecção na prova, até os adeptos suecos bateram palmas, e houve uma mulher (a de branco na foto que encabeça esta newsletter) que não conteve as lágrimas.
Além de directora executiva da Muang Thai, uma das maiores empresas de seguros da Tailândia, Nualphan Lamsam é presidente do Port FC, clube tailandês, e é líder do futebol feminino do país, porque é a principal contribuinte para que o mesmo exista: não só o financia directamente, como emprega muitas das jogadoras da selecção, para que elas tenham tempo e possibilidades de treinar condignamente - a história é contada pelo "The New York Times".
Como o nosso Diogo Pombo escreveu na edição mais recente do Expresso, o Mundial feminino está a ser uma montra do enorme crescimento do futebol feminino na última década - inclusive em Portugal, onde o número de federadas tem crescido todos os anos. Ainda nem todas as federações olham para ele - ou melhor, para elas - de forma séria, como se vê pelo exemplo tailandês, que ainda está longe de ter as condições que têm as norte-americanas, mas enquanto houver gente a lutar por ele - no campo, nos escritórios ou nas bancadas (45 mil pessoas encheram o Parque dos Príncipes para o EUA-Chile) - o futuro será bonito.
Se ainda não viu um jogo, aproveite hoje, às 17h, no RTP Play (lamentavelmente, os jogos não estão nas televisões portuguesas, o que diminui drasticamente o impacto da competição, particularmente entre as jovens praticantes, mas adiante): é que Portugal, depois de ter estado no Europeu, não se qualificou para o Mundial, mas há lá uma árbitra portuguesa, que apitará o África do Sul-Alemanha. Parabéns, Sandra Bastos - tão pioneira quanto Nualphan Lamsam.

O Que se Passou
Depois de cinco dérbis incríveis, o Benfica sagrou-se campeão nacional de futsal; Maurizio Sarri vai mesmo treinar a Juventus; Miguel Oliveira conquistou pontos na Catalunha; Alonso brilhou em Le Mans; e a Argentina continua uma desgraça."

1 comentário:

  1. À força querem que os adeptos achem que futebol feminino (e desporto feminino no geral) são a última coca cola do deserto.

    Quando as selecções de topo femininas, como a Austrália, deixarem de perder 7-0 com equipas de rapazes de 15 anos talvez tenham a mesma atenção e destaque que as equipas de rapazes de 15 anos.

    Até lá, jogadoras como a brasileira Marta podem continuar a choramingar que as marcas desportivas pagam muito mais aos homens que às mulheres, mas lá está, 99% dos adeptos de futebol não conseguem identificá-la numa foto, mas facilemnte identificam os 50 melhores jogadores homens.

    ROC

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