"A pior temporada da história ecléctica do Benfica dos últimos anos. É o que tenho a dizer desta equipa de hóquei em patins. A verdade é que esta época foi um fracasso em todos os aspectos e muitas são as questões que se colocam à volta a equipa.
A preparação e o planeamento desta temporada foram muito mal feitos em vários sentidos. Primeiro que tudo, pela opção de renovarem contrato com Pedro Nunes, depois de um final da época anterior em que a meu entender, tinha ficado visível que o seu ciclo tinha chegado ao fim.
Os jogadores contratados foram o internacional argentino Lucas Ordoñez (em troca com João Rodrigues), o internacional espanhol Albert Casanovas, o guarda-redes Marco Marros e o defesa/médio Xavier Cardoso. O jogador contratado ao AD Valongo acabou por rescindir contrato ainda no início da época, devido a um problema de saúde que lhe comprometia uma carreira profissional.
Depois da equipa ter ficado em terceiro lugar na Elite Cup, iria iniciar o campeonato com um ciclo terrível de jogos, onde nas oito primeiras jornadas receberia o FC Porto e iria jogar ao João Rocha, a Oliveira de Azeméis, a Barcelos e a Valongo. O início até foi positivo, onde nas quatro primeiras jornadas, o Benfica empatou em casa do Sporting e derrotou a UD Oliveirense e FC Porto.
Porém, na quinta jornada, a equipa seria derrotada de forma humilhante pelo HC Braga por 6-3. E esse seria o pronúncio de que o pior ainda estava por vir. Na jornada seguinte, seguiu-se um empate a três bolas em casa do Óquei de Barcelos. E em Dezembro, um empate a quatro golos consentido em casa do AD Oeiras ditou o fim da linha para Pedro Nunes. Uma saída que na minha opinião, ocorreu com uns meses de atraso.
Pedro Nunes seria substituído pelo seleccionador espanhol Alejandro Domínguez. Chegado ao Benfica, o treinador argentino entendeu que a equipa estava muito mal fisicamente e por isso, decidiu sobrecarregar a equipa com sessões duplas de treino, de modo a tentar recuperar os índices físicos. Esta carga física extra que a equipa sofreu a meio da época teve o seu preço nos jogos e nos primeiros tempos de Domínguez, a equipa empatou contra Oliveirense e Sporting de Tomar, e perdeu contra o Sporting CP e o FC Porto. Até ao final do campeonato, anda sofreu derrotas em casa contra AD Valongo e AD Oeiras.
Dadas as circunstâncias, as hipóteses que já eram escassas de conquistar o campeonato foram completamente hipotecadas, restando apostar todas as fichas na Taça de Portugal e na Liga Europeia.
Na Liga Europeia, a equipa esteve presente num grupo absurdamente acessível com o Noia, HC Monza e HC Montreux, tendo terminado em primeiro lugar com 16 pontos. Chegado os quartos-de-final contra a UD Oliveirense, a equipa encarnada rubricou duas exibições bastante competentes, que carimbaram o acesso à Final Four, e mostravam que esta equipa era capaz de mostrar muito mais do que estava a mostrar.
Chegada a meia-final contra o Sporting CP no João Rocha, a equipa demorou demasiado tempo a entrar no jogo. A perder por 4-1 a cerca de dez minutos do fim, a equipa encarnada teve uma reacção notável e conseguiu empatar o jogo, mas um golo de Gonzalo Romero acabaria por dar nova vantagem aos leões e carimbar a passagem à final.
Restando a Taça de Portugal disputada no fim-de-semana a abrir o mês de Junho, na meia-final contra o Sporting CP, assistiu-se ao melhor Benfica da época. Apesar de estar a perder por 2-0 logo no início do jogo, a equipa encarnada teve uma reacção de campeão, estando a vencer por 5-3 ao intervalo, registando-se depois um 7-3 no final do jogo.
Na final contra a equipa “anfitriã” da Final Four da Taça (decisão vergonhosa da FPP), a equipa voltou a mostrar-se apática e pouco objectiva. E com mais uma arbitragem polémica a não ajudar, a Taça acabaria por ser entregue à equipa da casa, depois de derrotarem o Benfica por 5-2.
Foi o fim de uma época que foi um autêntico fracasso em todos os aspectos e que levanta muitas questões quanto a esta equipa. Segue-se agora uma análise individual a alguns dos jogadores:
Lucas Ordoñez – mais um astro a brilhar nos pavilhões nacionais. O avançado argentino brindou os adeptos com golos e jogadas de grande classe. O avançado internacional argentino terminou a época com 51 golos marcados em todas as competições e será uma pedra basilar na próxima época.
Pedro Henriques – com Pedro Nunes, realizou uma primeira metade de época à imagem da época anterior: de grande nível. Na segunda metade da época, mostrou estar claramente acomodado e cometeu erros que não eram habituais da sua parte e que lhe custaram a presença na selecção nacional na Liga das Nações e no Europeu. Pedro Henriques tem tudo para fazer carreira no Benfica, mas precisa de ser mais consistente.
Albert Casanovas – foi uma contratação-surpresa por parte do clube, após rescindir com o Reus. Esperava-se que o defesa internacional espanhol desse equilíbrio e estabilidade defensiva à equipa, para além de ser uma arma importante nas bolas paradas. No entanto, apesar do começo promissor, Albert Casanovas não foi capaz de estancar os problemas defensivos da equipa (que não são de agora), não fazendo a diferença que se esperava. Foi um reforço que desiludiu, ainda para mais, tratando-se de um jogador que já desejava ver no Benfica há muito tempo.
Valter Neves – o capitão irá cumprir a sua 16ª temporada de águia ao peito e já é uma das maiores lendas do ecletismo do Benfica. Nesta temporada, Valter Neves voltou a fazer uma grande demonstração de mística e de benfiquismo, aquando da visita das águias ao reduto do HC Monza para a Liga Europeia. Na semana do jogo, o seu pai viria a falecer de forma súbita e apesar de estar autorizado a não viajar com a equipa para poder enterrar o seu pai, o capitão fez questão de viajar para Itália na sexta-feira à noite para se juntar à equipa. No final, Valter Neves jogou e ainda marcou um golo na vitória por 5-0, atitude que lhe valeu uma distinção por parte do clube italiano. É um jogador que merece ter uma camisola sua no pavilhão quando terminar a carreira.
Vieirinha – depois de uma época de adaptação, o ex-jogador do Óquei de Barcelos teve uma primeira metade de época a ser pouco utilizado por Pedro Nunes. Com a chegada de Alejandro Domínguez, o bicampeão mundial de sub-20 foi começando a ganhar espaço na rotação da equipa e rubricou uma recta final de época a atravessar o seu melhor momento desde que chegou ao Benfica. As suas exibições recentes valeram-lhe o regresso à selecção nacional. Ainda tem muito para crescer, mas já vai tendo minutos de competição que lhe permitem evoluir. Uma das poucas coisas positivas trazidas por Domínguez na segunda metade da época.
No fundo, foi uma época em que em muitos momentos, a equipa parecia uma casa a arder. Pedro Nunes saiu a meio da época, numa altura em que a sua liderança já estava muito gasta. A permeabilidade defensiva do seu modelo de jogo e a forma como sobrecarregava muito a equipa titular eram motivo de uma contestação cada vez maior.
No entanto, com Alejandro Domínguez, as coisas não melhoraram. Isto pode ter acontecido por dois motivos: primeiro, devido às questões físicas já aqui mencionadas. Com Pedro Nunes, as equipas chegavam aos últimos 3/4 jogos da época a arrastarem-se na quadra; segundo, quem acompanha o hóquei em patins sabe que o hóquei português e o hóquei espanhol têm estilos muito diferentes. Enquanto o hóquei português é mais ofensivo, mais dinâmico e acutilante, o hóquei espanhol é mais metódico, conservador e calculista, é um estilo de jogo onde os jogadores passam mais tempo a correr atrás da bola e consequentemente, desgastam-se mais. E esta mudança de estilo de jogo após cinco anos e meio com o mesmo treinador, não é algo que de faça do dia para a noite, muito menos a meio da época.
Já há alterações no plantel confirmadas para a próxima época: Miguel Rocha, um jogador que nunca teve oportunidades reais de mostrar o seu valor, está de saída para Barcelos. Para o seu lugar chega o internacional espanhol Edu Llamas. O SL Benfica também irá contratar o argentino Danilo Rampulla, jovem de 20 anos que deverá ser emprestado ao HC Braga.
A próxima época será um tira-teimas. Para os jogadores, a questão não se prende com aqueles que vão chegar, mas sim com aqueles que já cá estão e não têm rendido o que renderam noutros tempos (Nicolía, Adroher, Pedro Henriques). Para Alejandro Domínguez, esta será a época em que ele será verdadeiramente avaliado, cabendo-lhe a difícil missão de fazer este plantel render de forma consistente enquanto colectivo."
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