"O treinador chama-se Rui Vitória e não é por ter tal apelido, nem por ter estado, antes do Benfica, na liderança técnica do Vitória de Guimarães que passou a ter uma cultura vitoriana. Provavelmente, já a tinha e, agora que está à frente da equipa que levou ao título de campeão nacional, mantém-na.
A cultura vitoriana de que falamos é da rainha Vitória, ou seja, a cultura inglesa. Uma cultura muito diferente da cultura latina. Uma cultura de racionalidade. Por isso, num jogo em que a sua equipa foi, de facto, prejudicada até ao limite do aceitável, Rui Vitória manteve-se imperturbável e aproveitou para marcar a diferença da cultura carpideira e fatalista de quem se sente prejudicado pelos malandros dos árbitros e da cultura dos maníacos da perseguição de quem se acha o alvo de todas as maquiavélicas manipulações da arbitragem.
Pode sempre dizer-se que, apesar de tudo, Rui Vitória continua a ser o treinador do líder do campeonato. É verdade que sim, mas podemos também admitir como muito verosímil que, com outra cultura, mais tradicionalmente portuguesa, os jornais estariam hoje a preparar títulos bombásticos sobre a teoria da conspiração para tirar o Benfica do pedestal.
Felizmente para o futebol e para a arbitragem que Rui Vitória é o que é e é quem é. Às inevitáveis questões dos evidentes erros de arbitragem respondeu não ser, essa, matéria sua, mas de quem e especialista na análise. Da sua responsabilidade é estar satisfeito pela forma poderosa como a equipa do Benfica reagiu a uma desvantagem de três golos. E a coisa dita assim tornar-se, de facto, valorizada da sua equipa."
Vítor Serpa, in A Bola
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