"Muitos clubes com problemas económicos decidiram apostar na formação nacional e a própria Federação, atenta o sucesso dos escalões jovens, apoia-os com várias medidas. O Sindicato, em parceria com a Liga, aceitou, excepcionalmente a redução de salários em troca da aposta nos jovens. Apesar disso, muitos outros clubes em situação difícil vêem nos investidores estrangeiros uma resposta mais fácil. Será assim?
Distinguido as boas das más práticas, não posso deixar de alertar para perigos dessa opção. Por um lado, a aquisição de clubes ou de capital de SAD por entidades e pessoas desconhecidas e sem qualquer escrutínio e, por outro, a aposta excessiva desses clubes em jovens estrangeiros. Por esta via, estão a entrar no futebol português pessoas pouco recomendáveis organizadas e que em nada desenvolvem o futebol. Verificamos também que depois dos jogadores africanos e sul-americanos as portas estão escancaradas aos chineses. Nada nos move contra os chineses, que são bem-vindos. O que nos preocupa é este caminho perigoso, sem escrutínio, que põe em causa o futuro dos nossos jovens. É grave quando isto acontece em clubes não profissionais, amadores, na cara de associações distritais, cuja missão é exactamente a de dar condições aos jovens da sua comunidade. Mais grave ainda, sem respeito pelos sucessos dos Sub-20 e sub-21, que convocam o talento nacional.
Quem acompanha a realidade do futebol sabe que os resultados combinados, o tráfico de jogadores, as 'comissões' ou os esquemas para contornar as exigências de entrada num país estrangeiro são problemas actuais. Preocupa-me que muitos dos que estão ligados a estas situações sejam pessoas do futebol e que se desculpem invocando desconhecimento. Nada fazer e depois culpar só os investidores não é aceitável. E também não é aceitável lavar as mãos dizendo que compete à polícia a luta contra a criminalidade. Há muito que pode e deve ser feito pelos agentes do futebol, razão pela qual, na defesa de todos, devam o Governo e a Federação, com apoio da Liga, Sindicato e Associações, criar regulamentação de acesso aos investidores. Tem de ser, porque alguns clubes e dirigentes andam cada vez mais de olhos em bico."
Joaquim Evangelista, in Record
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