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quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

De ídolo a colega


"Neno conseguiu jogar no clube do seu coração e partilhar, em simultâneo, o balneário com Bento

Quando temos um ídolo reproduzimos cada gesto seu, ao ponto de a determinada altura não sabermos se foram as similaridades que nos chamaram a atenção para nos espelharmos nesse jogador, ou se de tanto o imitarmos tomamos hábitos seus como nossos. A verdade é que a cada coincidência o apego é reforçado.
No início da década de 1980, Neno era guarda-redes, representava o Barreirense e tinha o Benfica como o seu clube preferido. Bento atuava na mesma posição, e jogara no Barreirense antes de se transferir para os encarnados. Eram demasiadas semelhanças para que Neno resistisse em tê-lo como ídolo. Com apenas 18 anos, assumiu-se como titular da baliza da equipa de honra dos 'alvirrubros'. Ágil, rápido e com reflexos apurados, demonstrava potencial para se tornar numa referência na posição.
Começaram a falar a Bento da qualidade do jovem guarda-redes e, com a curiosidade aguçada, o benfiquista quis apurar se os elogios realmente tinham fundamento. Com o guardião encarnado na bancada, Neno aplicava-se ainda mais: 'Era o meu ídolo, e, quando eu sabia que ele estava lá, eu tinha de caprichar'. Atuava sem luvas, e foi precisamente Bento quem lhe ofereceu o seu primeiro par. Seria o início de uma ligação determinante para o seu futuro.
Neno começava a chamar a atenção de vários clubes, e o Sporting adiantou-se e demonstrou interesse. O guarda-redes foi convidado a assistir a um encontro dos leões frente ao Benfica, para que no final da partida falasse com o presidente dos verde e brancos. Terminado o jogo, dirigiu-se para a porta 10A. Enquanto aguardava que alguém o fosse aí buscar para falar com o presidente leonino: 'Quem é que me aparece à porta? Manuel Galrinho Bento (...) Com medo de que ele me viesse, meti-me no meio das pessoas e fui para casa'.
Na semana seguinte, foi precisamente Bento a ser o intermediário para que Neno fosse treinar ao Benfica. Passou a treinar uma vez por semana nos encarnados, até que os dois clubes chegaram a acordo para a sua transferência, ingressando no Benfica no verão de 1984. Esteve pouco tempo, sendo emprestado ao Vitória de Guimarães por uma época. Regressou ao Benfica, para disputar o lugar na baliza com o seu ídolo Bento. Neno podia analisar e replicar cada gesto seu.
A 7 de Agosto de 1985, estreou-se de águia ao peito frente ao Sporting, nas meias-finais da Taça da Honra. Após o empate a zero bolas, a partida foi decidida através da marcação de grandes penalidades. Neno foi determinante para a vitória do Benfica, ao defender um remate de Manuel Fernandes. No final, a imprensa apontou-o como 'o sucessor de Manuel Bento. Bem constituído, ágil, seguro, sereno e decidido'.
Os dois guarda-redes partilharam balneário nessa temporada e na seguinte, voltando a ser companheiros de equipa de 1990/91 até 1991/92, altura em que Bento terminou a carreira. Saiba mais sobre a carreira destes brilhantes guarda-redes na área 22 - De Águia ao Peito, do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

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