"Marta Soares é que é o chefe dos bombeiros, mas foi Jorge Jesus quem conseguiu dominar este incêndio
Falar do futuro do Sporting é como arriscar malabarismos em trapézio sem rede. Recomenda a prudência, pois, esperar para ver, na medida em que, desde a noite de quinta-feira, tem sido inequívoco o descontrolo que paira no interior do clube, a que se acrescentam súbitos golpes de rins e até algumas apressadas cambalhotas entre gente que desde Março de 2013 tem cantado os dons de BdC e, de repente, passou a ver nele um caso problemático.
Se nem o presidente da Mesa da Assembleia Geral entende os motivos do que classifica de «uma inversão tão grande de práticas e atitudes», o melhor será aguardar pelos próximos capítulos. Jaime Marta Soares acha que ele deve sair, mas também admite tratar-se de uma «situação de cansaço ou de instabilidade emocional».
Se o problema for este é simples trazer a paz. Um pedido de desculpas será suficiente para a vida continuar como se nada se tivesse passado. Ou não, com BdC nunca se sabe. Tem mais três anos de mandato que quer cumprir e em face da sua habitual e intempestiva reacção comportamental é de crer que se esteja nas tintas para o que os outros pensam. Por ora, arremessam-se assembleias para ver quem impõe mais respeito...
Não estou a dar nenhuma novidade ao dizer que não vejo em Jesus a genialidade que muitos lhe enxergam na área do treino. Reconheço-lhe competência, mas julgo que a sua personalidade egocêntrica vive em permanente conflito com a realidade e fá-lo acreditar ser o que não é. Não fosse esse défice de humildade e, muito provavelmente, hoje, seria treinador de um clube grande, em liga de superior dimensão europeia.
Sei distinguir, no entanto, quando ele tem razão. E desta vez teve-a, ao assumir a responsabilidade que cabia ao presidente: a de arrefecer o ambiente, promover o diálogo e tentar reunir a família leonina. Marta Soares é que é o chefe dos bombeiros, mas foi Jorge Jesus quem conseguiu dominar este incêndio.
Por entre processos disciplinares, suspensões, recurso à equipa B e outras sarrabulhadas, numa altura em que o ambiente escaldava, esteve brilhante na curta e determinante conferência de imprensa de sábado à tarde, em Alvalade. Poucas as perguntas e sucintas as respostas, embora esclarecedoras. O treinador deu a cara e saiu por cima. Foi aí que ficou sentenciada a culpa do presidente neste obscuro, processo, confirmada e agravada, no dia seguinte, pelo tribunal de Alvalade.
O meu aplauso para a argúcia com que o assessor de imprensa Paulo Cintrão fez emagrecer essa conferência. Com firmeza, profissionalismo e elegância. Entre o final de uma resposta e o surgimento de outra levantou-se, agradeceu aos presentes e salvou o seu treinador de posição muito incómoda.
Cintrão fez o seu trabalho com saber, acentuando a diferença que se observa na área comunicacional entre os que trabalham no terreno e tratam do futebol e os que cirandam nos gabinetes e cuidam da instituição. Estes são dispensáveis. Espalham fretes e agitam intrigas. Imprescindíveis são os que faziam a ligação diária com os meios de comunicação, que apoiam treinadores e jogadores, preparam e comparecem nas conferências e lutam diariamente com a impaciência dos jornalistas. Tarefa ingrata, não por não quererem dar notícias, mas, às vezes, por não haver notícias para dar.
A Liga quer valorizar a função, esperando-se que o faça com rigor e não apenas para ficar bem na fotografia ou aumentar as receitas. Não é só Paulo Cintrão a merecer respeito. Falo também de Ricardo Lemos (Benfica), de Pedro Amorim (FC Porto) e de André Viana (SC Braga). Os quatro primeiros da classificação, mas outros exemplos há, em emblemas de menor dimensão, igualmente atentos à importância de imagem como sãos os casos de Paulo Gonçalves (Paços de Ferreira), Marco Aurélio (Rio Ave) e Sérgio Mota (Chaves), a norte, e de Orlando Fernandes (Belenenses) e Letícia Neto (Estoril), mais a sul.
Nota 1 - BdC trouxe a barafunda, acusou jogadores, tentou pôr os adeptos contra eles e, talvez para atenuar a onda crítica, anunciou que vai encerrar a sua conta no Facebook. Até quando?...
Nota 2 - Na semana passada, a propósito do Braga, 1 - Sporting, 0, abordei o comparativo dos treinadores nos jogos entre os dois clubes e cheguei a uma conclusão de expressiva vantagem de Abel Ferreira sobre Jorge Jesus, derivada de duas vitórias e um empate: em termos de pontos, correspondia a sete a um. Leitor atento, porém, que faz o favor de me ler, Marco Cunha, assim se identifica, apesar da minha iluminada memória, ou da falta, como escreveu, pediu-me que o esclarecesse sobre o resultado da jornada 31 da temporada transacta entre os mesmos clubes e quem eram os treinadores à data. Pois é, venceu o Sporting (3-2), mas dois ou três dias antes Abel Ferreira voltou a ser retirado à equipa B para orientar a principal. Foi este o detalhe que me escapou. De qualquer modo, Abel mantém-se na frente: sete a quatro em pontos."
Fernando Guerra, in A Bola
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