Últimas indefectivações

quarta-feira, 19 de junho de 2024

E agora, Benfica?


"A última coisa que o Benfica precisava neste defeso era de uma crise diretiva… mas ela aí está, à vista de todos. Uma crise latente desde as últimas eleições, quando Rui Costa optou por uma lista, claramente de continuidade de um vieirismo que se encontrava instalado. Pertenci ao BBM (Benfica Bem Melhor) um grupo de reflexão benfiquista que Brás Frade em boa hora organizou e que, ao integrar-se na lista de Rui Costa motivou a minha saída, como dei publicamente conta na altura, ao defender uma ida a eleições como alternativa.
Os primeiros tempos da sua presidência correram de feição, fomos campeões com Schmidt, este teve precipitadamente o contrato renovado até 2026 por valores exorbitantes e, este ano, foi o que foi. Salvou-se uma ida direta à Champions pela conjugação de um 2º lugar que malfeito fora que não alcançássemos com o plantel que tínhamos e com a crise financeira instalada no FC Porto, com a sorte da Atalanta ter conquistado a Liga Europa, o que nos deu o almejado brinde.
Mas os problemas maiores, começaram há dias com a demissão de Luís Mendes e, se alguém tivesse dúvidas que o problema do vieirismo estava latente, as estórias que saíram para a opinião pública na sequência da sua saída são profundamente corroborativas da sua existência e de um mal-estar/lutas internas entre grupos instalados. Acresce que a divulgação das conclusões da auditoria forense nas vésperas das assembleias gerais de 15 de junho, pela gravidade que enfermam, apenas vieram agudizar as tensões. O "caldinho" estava montado para um sábado turbulento como aquele que se verificou na Luz.
Poderemos dizer (e concordo) que se tivesse havido um pouco de bom-senso de todas as partes, esta demissão (que acredito irreversível pelas divergências conhecidas) poderia e deveria ter ocorrido noutro timing posterior à realização das assembleias gerais. Se era compreensível que Luis Mendes era o seu braço direito, o seu homem de confiança para gerir as finanças, com as estórias que saíram, dando a firme ideia de que Luís Mendes procurava o necessário rigor na gestão dos contratos, torna-se incompreensível que Rui Costa o tivesse deixado "cair", agravando o ambiente para as assembleias.
Tendo acontecido nesta altura, trouxe diversas sequelas, algumas bem notórias como a de trazer à tona um Presidente Rui Costa aparentemente hesitante, como que tolhido pelo desenrolar dos acontecimentos. Não se lhe ouviu uma palavra até à assembleia de apresentação do Orçamento 2024/25, onde discursou de forma estruturada, mas pouco convincente, perante uma plateia hostil que não o poupou. 
Já diz o povo "o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita". Esta lista diretiva nasceu sob o signo de LFV, altamente fustigado desde há anos pela sucessão de "casos e casinhos" em tribunal, e Rui Costa surgiu inopinadamente como Presidente mantendo quase intocável a estrutura herdada (e fatalmente muito pesada a prazo). Rodeado por tantos a defender o "status quo", faltou-lhe quem o aconselhasse desinteressadamente, provocando o "golpe de asa" (eleições) para aproveitar a saída do seu amigo Luis Mendes. Não teria sido fustigado nas assembleias, demonstraria que marca o caminho, teria todos os "timings" com ele, com a vantagem de poder reformular completamente o seu elenco e, assim, descolar da imagem do vieirismo que lhe está "colada à pele".
Hesitou, foi para as assembleias "de peito aberto às balas" e, infelizmente para ele, a imagem que hoje se tem é que Rui Costa está a gerir o Benfica claramente "a prazo", já tendo até sido comparado a Marcello Caetano, realidade nada abonatória. Das assembleias saiu uma clara oposição aos atuais órgãos sociais, tendo circunstancialmente beneficiado Noronha Lopes pela sua presença e com os bons discursos que produziu. Poderá não ser o futuro Presidente até porque poderão surgir outros candidatos, mas se for coerente e assumir a sua candidatura andará seguramente lá perto.
Uma palavra final para o conteúdo das assembleias de sábado: na primeira, sob o tema da metodologia de discussão dos Estatutos, daqui faço um rasgado elogio a quem engendrou esta fórmula de discussão dos mesmos, largamente democrática, dando a possibilidade de serem discutidas diversas alternativas à proposta que a Direção apresentou. Não admira que a assembleia tivesse sido rápida e as propostas apresentadas fossem aprovadas por quase total unanimidade. Sobre a da tarde/noite em que a larga maioria dos presentes e oradores inscritos teve a oportunidade de tecer duras críticas à Direção e a Rui Costa em particular, (muito) pouco se discutiu o conteúdo do Orçamento em discussão, o que foi pena, dado que existe claro desequilíbrio orçamental que mereceria outra atenção (e uma chamada de atenção bem mais forte no "Parecer do Conselho Fiscal"). A "cereja no bolo" de uma assembleia muito complicada para todos os órgãos sociais foi o ter terminado com um resultado que gerou larga controvérsia pelo facto de a aprovação não ter atingido a maioria absoluta.
E agora, Benfica? Teremos uma nova assembleia a aprovar o Orçamento que não passou? Será que a Direção vai ignorar todos os sinais e meter "velinhas" para que haja tal sucesso no futebol que os Sócios esqueçam (i) a auditoria forense e suas desconformidades, (ii) tanto processo judicial a contaminar o bom nome do Benfica, (iii) o vieirismo que persiste e que tritura quem lhe faz frente?"

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