"Há peças de roupa, de tão delicadas, não podem ser misturadas com as outras na máquina de lavar. Há cores que não combinam e temperaturas adequadas para os vários tipos da materiais e tecidos, não vá tudo desbotar. Já tive t-shirts brancas que ficaram para sempre rosadas, recordo camisolas de lã que encolheram porque a água estava demasiado quente e, imaginem, até já descobri pequenas golas de lixívia que ficaram para sempre em calças de que gostava muito. Pode acontecer a qualquer um, exceto se essa pessoa, neste caso coletiva, se chamar Sporting CP.
Seja a mancha de azeite do Cashball, o pingo de ácido do ataque a Alcochete, a dedada de gordura dos depósitos de dinheiro em contas de árbitros, o vomitado planeado dos perdões bancários, o copo de vinho entornado do part-tima do diretor desportivo caminho de Inglaterra ou a fatia de melancia a pingar sobre a roupa que é a saída do treinador principal para o 14.º classificado do campeonato inglês, tudo tem solução. E nem é preciso o famoso (e já antigo) Supergel. Qualquer que seja a situação não faltam lavandarias de esquina para ajudar a eliminar (ou marcador) estas e outras nódoas. Podem ser empresas de comunicação, bots na Internet, especialistas em futebol ou, simplesmente, idiotas úteis prontos a despejar pazadas de areia diretamente nas córneas de quem os segue, vê, ouve ou lê.
O futebol tem destas coisas, os heróis transformaram-se rapidamente em bestas (qualquer que seja o clube), mas o que mais importa é cavalgar a onda da comunicação, de forma a que a versão 'certa' seja a mais divulgada. No fim de mais uma novela em tons de verde, ainda nos vão querer vender que todos estes processos foram grandes atos de gestão, exemplos de elevação no dirigismo desportivo e superioridade intelectual dos seus intervenientes. Só que não. De tanto ir à máquina de lavar, há um dia em que essas peças de roupa deixam de fazer sentido no guarda-roupa de cada um. Ou no imenso 'guarda-factos' que são os mistérios do futebol português. Tivessem todas estas manchas caído numa peça de roupa vermelha, e, podem ter a certeza, já o desbotado teria vindo a público, pendurado no estendal da opinião pública."
Ricardo Santos, in O Benfica
LEÃO EÇA CANA.
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