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terça-feira, 6 de maio de 2025

O apagão e o regresso ao passado


"Na última segunda feira, 28 de abril, todos tivemos um dia diferente. A falta de eletricidade em todo o país fez-nos recuar a outros tempos. Fomos obrigados a desligar do mundo. Tendo em conta a forma como tudo se resolveu no final do dia, a realidade é que para aqueles que tiveram uma infância sem tecnologia, as horas em que estivemos desconectados trouxeram-nos sensações diferentes e recordações únicas.

A nostalgia do passado
De repente ficámos todos sem eletricidade. De repente vivemos todos o momento. De repente o tempo passou mais devagar. De repente utilizámos o rádio para perceber o que se estava a passar. De repente as pessoas saíram à rua e conviveram umas com as outras. De repente as varandas dos prédios voltaram a ser o Facebook dos anos 80 e 90. De repente os miúdos brincaram na rua com os pais ou amigos. Por algumas horas voltámos a ter um cheirinho do século XX.

Futebol: passado 'vs' presente
Para quem gosta de futebol e acompanha o fenómeno desde muito novo, tanto dentro como fora dos relvados, é impossível não fazer um paralelismo com o que era o futebol e o que é hoje. A pergunta que coloco é: será que faz falta um apagão ao futebol? Questiono isto por vários motivos.
A evolução do futebol fez com que um simples jogo se transformasse num evento. Hoje existe uma maior preocupação em criar experiências diferentes aos adeptos dentro de um estádio. A interatividade entre clubes ou organizações e aficionados é muito superior. Se há algo em comum, no passado e no presente, é que a procura para assistir a um jogo ou a um espetáculo de futebol continua muito elevada.
Apesar de tudo isto ser verdade, em minha opinião, existe algo que se está a perder nos adeptos presentes no estádio. Hoje, muitas pessoas vão ao futebol para poderem dizer que lá estiveram, com partilhas constantes nas redes sociais. Ao longo do jogo, muitos estão agarrados aos telemóveis em vez de estarem focados no que se passa dentro das quatro linhas. Perdeu-se um pouco a paixão de outrora que fazia com que os adeptos estivessem ligados durante os 90', sendo que esse era o único objetivo de ir a um estádio de futebol. A nostalgia que as horas do apagão nos trouxeram fizeram-me recordar a experiência de ir ver um jogo de futebol nos anos 90.
As pessoas a chegar às bancadas muito tempo antes do jogo começar. A ausência de lugares reservados assim o exigia. Muitos adeptos sentavam-se com o rádio na mão para ouvir o relato do que estavam a ver, mas também para acompanhar os restantes jogos em simultâneo. Quem ia ao estádio ia única e exclusivamente para ver o jogo e para apoiar a sua equipa. As comodidades eram inferiores, mas a paixão estava bem presente.

Decisões: passado 'vs' presente
Outro ponto que fazia a diferença era a forma como as últimas jornadas do campeonato estavam organizadas. Antigamente existia a regra de que, nas últimas três jornadas, os jogos de equipas que jogavam pelos mesmos objetivos tinham de se efetuar no mesmo dia e à mesma hora. Esta medida fazia com que a emoção e a adrenalina fossem superiores. Jogavam-se os jogos com os ouvidos nos rivais.
Nos dias de hoje, os jogos são organizados não em função da competição, mas sim em função do operador de TV. Quando deixamos que a organização dos jogos de uma competição dependa da vontade dos operadores de TV percebemos que estamos cada vez mais frágeis. Por que afirmo isto? Porque um dos princípios fundamentais para atrairmos interesse pela nossa competição é a emoção das decisões. O que todos queremos é que os campeonatos se decidam nas últimas jornadas, de preferência com a possibilidade de várias equipas poderem vencer a competição. É precisamente o que está a acontecer este ano, com Sporting e Benfica a lutarem, palmo a palmo, pelo título.
Antigamente um jogo de futebol era o momento alto do dia. Os jogos realizavam-se à tarde de forma a que todos pudessem assistir sem restrições.

Liga dos Campeões
Ainda bem que na terça feira a eletricidade já estava restabelecida. Assim, todos tivemos oportunidade de ver dois grandes jogos de Liga dos Campeões.
Parafraseando Pep Guardiola, enquanto existirem jogos assim e treinadores com esta mentalidade o futebol irá continuar a prosperar. Não posso deixar de destacar o PSG de Luís Enrique, onde pontificam os portugueses Vitinha, João Neves, Nuno Mendes e Gonçalo Ramos. Uma verdadeira equipa. Todos têm compromisso. Todos sabem o que devem fazer em cada momento.
Tiveram pela frente um adversário (Arsenal) que também costuma mandar no jogo. A jogar fora foi o PSG a dar cartas. Criou várias ocasiões de golo. Podia ter saído de Londres com uma margem mais confortável.
Também é verdade que Donnarumma fez mais uma grande exibição com duas grandes intervenções. No limite o que ficou na retina foi um jogo à antiga, que prendeu todos aqueles que estavam a assistir à partida. Quando pensávamos que tínhamos visto o grande jogo da jornada, eis que na quarta-feira fomos brindados com mais um grande desafio.
Um Barcelona igual a si mesmo. Controlador, a criar muitas ocasiões de golo, mas também a cometer muitos erros defensivos. Apesar de ter estado em desvantagem no marcador a realidade é que a equipa de Hansi Flick tem uma capacidade incrível de não se deixar abater.
Para quem gosta de futebol é um regalo poder ver uma equipa comandada pelo talento de Yamal ou Raphinha e pelo cérebro de Pedri e De Jong. Do lado contrário um Inter muito bem mecanizado. É uma equipa muito competente apesar de não ser brilhante. Conhece muito bem os seus pontos fortes e tenta esconder os seus pontos fracos. Um dos grandes méritos de Inzaghi é a forma como consegue fazer com que os jogadores sigam a sua ideia de jogo e tenham compromisso total.
A expetativa sobre os jogos decisivos é elevada, tendo em conta o ADN e a qualidade apresentados pelas quatro equipas nos jogos da primeira mão das meias finais da Champions.

A valorizar: Luis Enrique
O PSG é uma equipa de autor. A equipa de Luis Enrique pratica um futebol dominador e alegre. O treinador espanhol conseguiu fazer com que o compromisso coletivo se sobrepusesse ao desejo individual.

A valorizar: Gyokeres
Esta época já leva 52 golos marcados pelo Sporting, mas Gyokeres é muito mais do que os golos que marca... A desvalorizar: Al Nassr A equipa saudita recheada de estrelas (entre as quais Cristiano Ronaldo) foi eliminada pelo atual oitavo classificado da liga japonesa…"

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