"Comecei a ir ao futebol com o meu avô, em Setúbal. Ao fim de semana, começávamos de manhã a ver os escalões de formação e só terminávamos quando era a vez dos seniores. Íamos para o peão do estádio e foi por lá, em pé (junto de quem não tinha orçamento para a bancada central), que levei as primeiras lições de táctica, garra e da palavreado obsceno. Fazia parte e não me tornei pior adulto por causa disto. No outro todo do estádio havia um placard do Totobola alimentado manualmente por um funcionário do Vitória FC. E era através dele que eu acompanhava a marca do marcador no jogo que mais me interessava, o do SL Benfica. Vi grandes equipas do Glorioso passarem e sofrerem no Bonfim e absorvia todas as informações que o meu avô me dava. Aquele vitoriano tinha um respeito pelo Benfica que me deixava sem palavras.
Contava-me como tinha sido o Eusébio, como conhecera o Simões no Brasil ou como fora a festa em 1966 com o brilharete dos Magriços. Em 14 de Maio de 1994, sentámo-nos em frente à televisão. Ia começar o jogo. O SL Benfica vivia momentos complicados, mas a sala de casa do meu avô transformou-se numa extensão da bancada dos adeptos visitantes em Alvalade. Era o derby mais esperado, contra um Sporting CP que, dizia-se e ainda se diz, tinha uma das melhores equipas da sua história. O jogo não começou bem, como vocês se lembram, mas o Menino de Ouro terminou a partida com nota 10 do jornal A Bola, três golos na ficha e uma marca na nossa memória colectiva. A cada jogada, a cada golo, o meu avô festejava comigo: 'Isto assim já me faz lembrar o Benfica do meu tempo'.
O meu avô morreu na semana passada, mas ninguém me tira aquela noite dos 6 a 3 que passei com ele."
Ricardo Santos, in O Benfica
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