Últimas indefectivações

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

O poder da palavra: Resumo de tempos recentes


"1. Não ficou bem na fotografia nem vendeu a imagem de credibilidade que o futebol tanto precisa, mas a opção técnica de Miguel Nogueira em anular pontapé de penálti por (alegada) carga sobre Taremi foi correta, apesar de baseada na informação áudio que recebeu do seu VAR. A situação está prevista nas Leis de Jogo e na última versão (a 14) do Protocolo VAR. O problema é que, por ser atípica e muito excecional, era até então desconhecida da maioria das pessoas. A verdade é que o árbitro pode aceitar sempre uma indicação dada pelo seu videoárbitro sem ver as imagens, mesmo que o lance seja de interpretação (como foi) e o protocolo recomende o visionamento in loco. A questão é que as imagens podem não estar disponíveis, por questões de natureza técnica (tal como terá acontecido no estádio do Dragão). Nesse caso, o árbitro tem a prerrogativa de ouvir a indicação oferecida e decidir se a acata ou não. O lisboeta decidiu fazê-lo e ainda bem, porque no fim a melhor decisão foi tomada. É óbvio que o que tornou todo aquele momento pouco realista e algo absurdo foi o facto de Miguel Nogueira ter-se deslocado à zona de revisão e utilizado um dispositivo móvel inesperado para comunicar com o colega. Percebe-se a perceção pública, até porque não é isso que se espera de uma tecnologia que tem vídeo no nome, mas em último recurso a opção é lícita e está prevista. Para que conste, aconteceu há pouco tempo (no Torreense-Nacional) e em tempos na Champions League (no Schalke-Manchester City, em 2019).

2. Um elemento técnico do Benfica teve aparentemente comportamento deplorável em relação a uma jogadora do SC Braga, aquando da realização do jogo de futebol feminino entre as duas equipas. A atitude em questão, bastante visível nas imagens e amplamente partilhada na imprensa e redes sociais, merece ser averiguada de forma rigorosa e célere. Esteve bem o próprio clube ao anunciar que irá apurar responsabilidades (pedindo desculpas formais ao seu adversário), como esteve muito bem, mais uma vez, a APCVD, que de imediato instaurou processo contraordenacional ao referido agente desportivo. Tolerância zero.

3. A equipa de videoarbitragem designada para o último Torreense-Oliveirense cometeu um erro de análise que deve merecer reprovação da classe e de quem gosta de futebol. Apesar da decisão final ter acabado por ser a correta (golo bem anulado à Oliveirense, por fora de jogo de Carter), a definição da respetiva linha tecnológica não aconteceu no momento do último passe, como devia, mas do antepenúltimo (!), sendo depois enviada para o operador e transmitida em casa de milhares de pessoas. Não há justificação para o injustificável e o melhor mesmo é não se proteger o que está à vista. Quem está em sala já tem sobre si o peso de intervenções difíceis, em lances subjetivos. Não pode nunca facilitar naqueles em que a tecnologia assegura a 100% a factualidade da decisão. Quando falha, tem que ser devidamente responsabilizada, porque este é um desporto que merece concentração, empenho e compromisso máximo de todos.

4. O Conselho de Arbitragem prepara-se para cumprir com o que prometeu há não muito tempo, divulgando as comunicações áudios de jogos realizados em agosto, incluindo o da Supertaça Cândido de Oliveira. A estreia acontecerá, sob a forma de programa, às 19.30 h da próxima quinta-feira, num conhecido canal desportivo. Nesta fase, é justo elogiar a iniciativa, sabendo que ela muito dificilmente será agregadora no difícil mundo do futebol. O mais certo até é que seja mais um foco de discussão, porque é sempre isso que acontece quando em causa estão decisões de árbitros. A grande vantagem, já aqui referida noutras núpcias, é o passo em frente que foi dado. Recentemente, a estrutura da arbitragem mudou a sua forma de comunicar e tem tentado aproximar-se mais do adepto, através de esclarecimentos e explicações pontuais e oportunas. Ao fazê-lo abandona uma postura de décadas que a remetia para um silêncio que tantas vezes passou mensagem desvirtuada. Espera-se agora que os menos indefetíveis consigam perceber que, entre quem decide em campo e quem ajuda em sala, nada há de maquiavélico ou premeditado. Pode é haver boas ou más decisões, o que para efeitos de credibilidade, é bem diferente."

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