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terça-feira, 23 de maio de 2023

Para se ser campeão, é preciso jogar mais que 45 minutos. E para ganhar também (o empate que deixa o título para decidir na última jornada)


"Sporting e Benfica empataram-se (2-2) entre equívocos de parte a parte, desperdiçando assim ambos os objetivos que tinham para este domingo: a equipa de Schmidt, que falhou completamente a abordagem ao jogo na 1.ª parte, deixou de festejar o título nacional e o Sporting, que desistiu de jogar na 2.ª parte, entregou com um lacinho um lugar de Champions ao SC Braga. O empate penalizou ambas as equipas. E foi merecido

O dérbi da penúltima jornada do campeonato foi, essencialmente, um dérbi de equívocos. Equivocou-se largamente Roger Schmidt ao entrar com Frederik Aursnes a defesa direito, ao deixar o meio-campo a Chiquinho, João Neves e João Mário, a dar espaço ao Sporting para se divertir alegremente pelas alas. E equivocou-se quase tão espetacularmente Rúben Amorim, ao desistir do jogo mal arrancou a 2.ª parte, ao dar conta da diferença de abordagem do Benfica, a subida de Aursnes no terreno, tirando Marcus Edwards, um dos melhores na 1.ª parte, para lançar Paulinho, avisando logo ali o que queria do que restava do encontro: aguentar atrás e tentar a sorte numa bola longa, apanhando o Benfica desprevenido, demasiado balançado para a frente.
E por isso não poderia haver outro resultado neste jogo. O empate (2-2) penaliza as duas equipas, porque o Benfica deixa tudo para resolver na última jornada e o Sporting desbarata definitivamente uma possível recuperação até ao 3.º lugar e aos cifrões da Champions. É merecido, para ambos, porque em questões de erros o futebol é muito democrático: raramente perdoa, para qualquer que seja o lado. Para os adeptos, todos, das duas equipas, não deve ter existido jogo mais frustrante na temporada.
O cliché redundante das “duas partes completamente distintas” terá sido inventado para jogos assim, porque o que se viu foi, de facto, dois jogos num só. O Sporting entrou muito bem, a conseguir facilmente destruir a pressão alta que o Benfica havia ameaçado fazer nos primeiros minutos e lançando o seu jogo para as alas, onde Nuno Santos e Esgaio tragaram Aursnes e Grimaldo com facilidade.
Conseguindo quebrar as linhas com um jogo intenso e rápido, o Sporting podia ter marcado logo aos 21’, numa jogada em que Edwards arrastou dois adversários na direita para depois com o calcanhar deixar a bola para a corrida livre de Esgaio. O cruzamento foi perfeito, mas Pote falhou completamente a bola. Nem um Bryan Ruiz foi.
Super competitivo nos duelos, o Sporting não deixou uma bola por ganhar na 1.ª parte - o Benfica era uma equipa nervosa, manietada, sem capacidade de construir, porque nem sequer capacidade para ter bola havia. E depois de mais uma ameaça de Esgaio, o golo do Sporting surgiu naturalmente, numa jogada pela esquerda, com Nuno Santos, com todo o espaço do mundo, a encontrar Trincão na área, que aproveitou um corte defeituoso de António Silva para ficar frente a frente a Vlachodimos. Não foi à primeira, seria na recarga. Aos 39’ o Sporting estava na frente e justificava. O 2-0, aos 44’, por Diomande, de cabeça após canto, dava um volume pouco escandaloso à superioridade da equipa de Rúben Amorim na 1.ª parte.
Só que na segunda tudo mudou. Schmidt apercebeu-se do erro de ter entrado em campo com Aursnes a lateral direito e deu ordem de subida ao norueguês, tirando João Mário de campo. O nórdico rematou com perigo logo nos momentos iniciais, numa jogada em que se viu logo outro Benfica: com mais intenção, com mais vigor na disputa do jogo. E perante tal demonstração, Amorim agiu no imediato, lançando Paulinho. O ataque móvel deixava de ser móvel. Provavelmente deixava de ser de todo um ataque: o Sporting abdicou da bola, optou por jogar na especulação do jogo, nos possíveis contra-ataques que o Benfica, balanceado para a frente, poderia conceder. Tal raramente aconteceu. E quando aconteceu, aos 86’, Paulinho falhou em frente a Vlachodimos, permitindo a defesa do grego.
Aos 71’, e já depois de ter falhado uma oportunidade, Aursnes faria o 2-1, após cruzamento de Grimaldo, confirmando que o seu lugar não era lá atrás. Por essa altura, já Schmidt tinha desfeito todo o plano inicial e retirado gente sagrada como Gonçalo Ramos e Rafa para lançar Musa e Guedes. O Benfica melhorou significativamente, embora a reação ao golo não tenha sido fantástica. Os minutos que se seguiram foram até os melhores de uma exibição paupérrima do Sporting na 2.ª parte e Morita esteve perto de aumentar a vantagem dos leões, após boa jogada de Bellerin, talvez a única substituição que correu bem aos da casa. Minutos depois, incompreensivelmente, Amorim retirou o nipónico de campo, lançando o jovem Dario Essugo que continua a não justificar a aposta, para mais em jogos deste calibre.
Nos últimos minutos, o Benfica voltou a carregar, mais atabalhoadamente do que se esperaria de uma equipa que entrou em campo com a possibilidade de ser campeã, mas nisto, para se chegar a um objetivo, seja um título ou ganhar um jogo, é preciso estar lá 90 minutos e não só pela metade. Vale para ambas as equipas. Já nos descontos, um remate de Musa contou com um corte decisivo de Coates e já com quatro minutos em cima do tempo regulamentar uma jogada de confusão na área terminou com um remate afoito de João Neves, com a bola a entrar pelo único espaço onde não existiam corpos vestidos de verde e branco.
O castigo foi merecido para o Sporting, porque desistiu de jogar. E para o Benfica, porque deu 45 minutos de avanço. Ninguém deve ter ficado feliz. Mas vossa culpa, vossa tão grande culpa."

1 comentário:

  1. Muito bom artigo, muito inteligente, assertivo e definitivamente fora da prosa normalmente incarrapacível dos jornalistas portugueses. Só se esqueceu de referir um detalhe, a lagarta Lidia. Um detalhe que faz toda a diferença vai para mais de 40 anos. O sportem foi supercompetente nos duelos porque foi sempre empurrado por um critério totalmente escandaloso e premeditado de mais um árbitro condicionado por uma agenda corrupta.
    Os jogadores do Benfica entraram muito bem no jogo, mas logo nos 3 primeiros minutos perceberam que era mais um jogo em campo minado. Duas faltas consecutivas sobre o Rafa permitiram ao sportem recuperar a bola ilegalmente, e logo na sequencia o Otamendi desarma o jogador do sportem, quanto a mim sem falta, embora exista um contacto natural depois do desarme, e o árbitro apitou logo a falta.
    Foi assim ao longo dos 90 minutos. O cartão amarelo ao Antonio Silva foi premeditado. Assim como o cartão amarelo ao Otamendi em Portimão. Roubos atrás de roubos. Jornada após jornada. Acredito que se ocorrer mais um milagre na proxima jornada possamos ser campeões. De outra maneira, os jogadores que se preparem, vão sair debaixo de um coro de assobios.

    CARREGA BENFICA TRINTA E OITO!

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