"A primeira vez que ouvi esta expressão aconteceu num momento em que tive a oportunidade de trabalhar com o Homem (de “H grande” – Luiz Filipe Scolari) que, acima de tudo, liderava pelo respeito – pelo respeito do(s) Atleta(s), pelo respeito da Organização e do País que o acolheram – e, com isso, gerou compromisso, orgulho e sentido de pertença e “missão” em todos nós.
Liderar pelo respeito do indivíduo, da diferença de crença e opinião, em boa verdade, sempre trouxe bons resultados (tal como se encontra documentado na generalidade da literatura científica sobre a Liderança e Excelência de Desempenho) e, na altura, não foi excepção... num curto espaço de tempo, Scolari tinha o respeito dos seus Atletas, da Organização que o acolheu e, inequivocamente (e como muitas imagens de arquivo assim o demonstram), o de uma Nação.
Hoje, enquanto escrevo este texto, tentando deixar de lado a incredulidade (e vergonha) acerca dos eventos acabados de ocorrer... só me cabe pensar que, de facto, parece que alguém se lembrou de reinventar da pior forma esta expressão, num ensaio infeliz de um filme de faroeste de 5ª categoria.
Se o que foi relatado acerca da agressão a atletas e jogadores na Academia de Alcochete traduzir, mesmo que de forma amplificada, o que por lá se passou, lamentavelmente, apenas estamos a assistir a mais um episódio de um fenómeno que se vem instalando já há alguns anos e que mais não é do que a perda total e completa da identidade do futebol português.
E tal sucede, não pela ação de uma série de “encapuzados”, mas pela inércia de todos os organismos que tarde ou nunca responsabilizam os “operacionais”... e, pior ainda, quem os instrumentaliza.
Um grupo de adeptos invadiu a Academia do Sporting, terça-feira à tarde, e agrediu jogadores e treinadores do clube.
Lamentavelmente, a impunidade de quem pratica, a impunidade de quem planeia é ainda o nosso DNA e vai continuar a sê-lo se quem detém o poder e a responsabilidade de actuar (quem lidera!), uma vez mais, não se detiver a analisar este fenómeno de “mata-mata” que se agiganta no futebol e na sociedade em geral e não tomar medidas urgentes e necessárias para o estancar.
Hoje, o Sporting Clube de Portugal protagonizou o primeiro episódio de um “mata-mata” que, se não for veementemente repudiado por cada um de nós, pelas organizações que podem e devem actuar, se torna aceitável... e, apenas um “piloto” de uma série de muitos outros episódios que, lamentavelmente e inevitavelmente, se instalarão de futuro.
Este não é um problema do Sporting Clube de Portugal, é um problema de todos os clubes... Não é um problema de “Liderança”, é um problema de “Lideranças”, não é um problema de quem é liderado mas de quem se deixa liderar de forma instrumentalizada e, em última análise, é um problema de quem se abstém, de quem não participa, de quem não escolhe... e de quem apenas se queixa das escolhas feitas por outros.
No Desporto e na Sociedade em Geral, a culpa dilui-se entre quem, na sua esfera de acção (pequena ou grande) escolhe apenas assistir e não participar, não dar voz.
Este é, de facto, um texto que não gostaria de ter escrito mas que encontra justificação na vergonha e tristeza que qualquer profissional, que se move no desporto pelo quase extinto fair-play, está a sentir neste momento.
Tolerar agressividade é ser conivente, tolerar agressividade é “agredir” da pior forma porque é tornar aceitável o que é completamente inaceitável."
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