"Caro Bruno, quando ler estas palavras, poderá já não ser presidente do Sporting. Mas, nos últimos meses, o Bruno mostrou um tal desejo de se agarrar ao seu posto, que não é impossível que ainda seja o líder dos leões na final da Taça de Portugal, neste domingo, frente ao Aves. Na verdade, até durou demasiado. Permita-me, então, endereçar esta carta ao antigo dirigente, dado que o Bruno já não é o que era.
O Bruno sabe que um presidente é escolhido para defender o seu clube da melhor forma possível e que deve demitir-se quando se torna um peso, ou até O problema. O Bruno recusa-se a sair por motivos que parecem bem distantes do interesse geral. O Bruno afirma que não vê por que razão deve sair, quando a lista de motivos é cem vezes maior do que o palmarés do Sporting nos últimos anos. Atalhando, podemos dizer que, nesta semana, conseguiu chegar ao lado obscuro da força, quando umas cinco dezenas de supostos adeptos do seu clube agrediram os jogadores, dentro do próprio balneário, em Alcochete.
Qualquer amante de futebol sabe bem como o balneário dos jogadores profissionais é um santuário. Um local inviolável, onde mesmo o treinador, por vezes, deve entrar apenas após ter batido à porta. Para além da violência inaceitável, indefensável e injustificável, é uma forma de profanação por parte desses cinquenta indivíduos encapuzados e armados com cintos e barras de ferro. Dizendo que esses eventos são “chatos”, o Bruno desqualificou-se: a gravidade dos factos vai muito mais além e as consequências serão profundas. E nem vou recordar, aqui, as suspeitas que tem sobre si quanto à cronologia e à paternidade desta acção de comandos indigna. A justiça estabelecerá a verdade.
Ao jornalista cabe, simplesmente, lembrar que o Bruno teve um papel no colapso das fronteiras. Um dos símbolos do seu reinado no Sporting foi o hábito de estar no banco de suplentes, durante os jogos. Esse não é o seu lugar e explica, em parte, a confusão dos papéis. Num clube normal, o lugar do presidente é nas tribunas. Porque um presidente deve estar mais elevado. Porque o relvado é o reino dos jogadores. Porque o banco é do domínio do treinador. Sugerir que não há uma ordem para as coisas e um lugar para cada função, no seio de um clube, é abrir a porta a todo o tipo de desvios.
Acusar, publicamente – e após uma derrota – os seus jogadores de terem falhado, também constitui uma falha grave. Na forma, não esteve à altura da função. No conteúdo, ainda pior. Muitas vezes, o Bruno escolheu um lado que não é o do clube, jogou muito na divisão e pouco na união, apostou no populismo de baixo nível. Já não consegue controlar a sua própria criatura e o seu fim de reinado descarrilou para o abominável.
Os sócios do Sporting têm razão de sentir uma imensa raiva, porque o Bruno arruinou a instituição. Os jogadores do clube têm razão em detestá-lo, porque o Bruno não os protegeu. Os amantes do futebol têm razão em desprezá-lo, porque o Bruno acabou a representar aquilo que eles detestam: um presidente devorado pela sua própria personagem.
A título pessoal, estou profundamente desapontado. Há uns anos, eu entrevistei-o e, apesar da fraqueza de alguns dos seus argumentos, apreciei a sua energia e o seu traje de cavaleiro branco que esperava agitar profundamente o futebol português.
O Bruno terminou como Roger Rocher (Saint-Etienne), Claude Bez (Bordeaux) e Bernard Tapie (Marseille), em França, no século passado, enfeitiçado por si próprio. Conscientemente ou não, o Bruno agiu como se fosse o clube. Perdeu o controlo e tudo o que dava crédito ao seu mandato não existe mais. O Bruno é, para sempre, o presidente o que deixou que os ultras batessem nos seus próprios jogadores e que é visto pelos jogadores e treinador como o inimigo a combater.
O Bruno é a negação da função que ocupa.
Cordialmente,
Régis Dupont, L’Équipe"
já este século no Marselha jogadores foram atacados no centro de treinos "la turbie" as casas assaltadas, roubados e mesmo feitos reféns por um par de horas por membros ultras de uma claque do clube.
ResponderEliminar