"Vítima de um problema de saúde durante uma digressão ao Chile, Augusto Silva viu-se afastado prematuramente do futebol e da carreira de sonho a que todos os atletas aspiram.
A noite de 27 de Janeiro de 1967 mudou-lhe a vida com a mesma força que um relâmpago muda uma árvore sobre a qual se despenha. Atleta aguerrido, nada pôde, porém, contra a 'trombose cerebral' que o surpreendeu aos 27 anos, num quarto de hotel a 10 mil quilómetros de casa.
'Um futebolista sem sorte', por cá o fadavam a letras gordas os jornais, enquanto, por lá, na pátria de Neruda, o infeliz 'Viriato' se debatia com a falta de mobilidade em metade do corpo e a perda da fala. Cingiu-se uma cama hospitalar durante três longas semanas. Minimamente restabelecido, regressou a Lisboa num dia de chuva, ventoso e frio. Cruzaria o inverno em aturada recuperação, sempre rodeado do calor dos amigos e da família. Salvava-se o homem. O futebolista morria. Em cinco temporadas, no seio de uma equipa recheada de nomes sacrossantos, semeou a sua glória com a mesma paciência que um plantador de bambus. Esse estoicismo daria os seus frutos com o regresso do histórico Bela Guttmann, em 1965/1966. O treinador bicampeão europeu tirou partido como nenhum outro das qualidades do atleta, apostando nele como titular. Na época seguinte, estaria de volta Fernando Riera, pela mão do qual Augusto se estreara durante o verão de 1962 e haveria de cumprir, em meados de Janeiro de 1967, o seu último jogo.
Após o acidente em Santiago do Chile, recusou a festa de homenagem. Interessava-lhe ser útil. Seria. Durante mais de três décadas manteve-se na Luz como colaborador, até se reformar. Exemplo de força, integridade e resiliência, pertence ao lote daqueles homens que nos inflamam inspiração."
Luís Lapão, in Mística
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