"Quis representar Portugal apesar de ter nascido e crescido em França; chega à final do Euro2016 a dois passos de casa
«O Raphael Guerreiro talvez tenha sido o que me surpreendeu mais, porque era muito desconhecido para mim. Dei comigo no primeiro treino a olhar para ele e a pensar ‘epá, que talento é este?’»
Fernando Santos confessou o entusiasmo em relação ao esquerdino ainda em Abril, durante uma entrevista à SportTV. Por essa altura já sabia que não podia contar com Fábio Coentrão no Euro2016.
Chegou o Campeonato da Europa, Raphael Guerreiro entrou no onze e de repente tudo parecia natural: era aquele o seu lugar. Não me limitava a cumprir, transcendia-se e era por vezes o mais entusiasmante da Selecção.
Não me recordo de um jogo mau do luso-francês pela equipa das Quinas. Neste Campeonato da Europa teve de parar por lesão mas foi dos mais regulares em campo. Sempre com nota elevada.
Raphael, na incompleta maturidade dos seus 22 anos, assumiu riscos quando poucos denotavam à-vontade para tal e foi geralmente feliz. Frente a Gales, como se tornou hábito, foi dos melhores da Selecção. Assistiu Cristiano Ronaldo para o 1-0.
Portugal já teve mais e menos Ronaldo. Mais e menos Nani. Mais e menos Renato Sanches. Pepe subiu de produção, Fonte e Adrien vão pelo mesmo caminho, mas fica o elogio para a constante: Raphael Guerreiro.
Não é fácil conseguir o que Raphael conseguiu. Garantiu unanimidade numa posição delicada, compensando a ausência de um dos elementos mais influentes na manobra da Selecção, pela qualidade e entrega, ao longo dos últimos anos: Fábio Coentrão.
O jovem que vai trocar o Lorient pelo Borussia Dortmund não ocupa manchetes. Fala pouco, prima pela discrição fora de campo, é ainda um relativo desconhecido para o grande público. Fica o elogio, não por merecer mais que os outros, mas porque nem sempre teve o espaço que justificou.
Devemos igualmente agradecer a Raphael Adelino José Guerreiro. Podia ser, por pleno direito, candidato a sucessor de Patrice Evra na Selecção de França.
Nasceu em Le Blanc-Mesnil, filho de uma mãe francesa, e viveu sempre por ali. A ligação a Portugal faz-se pela família do pai e pela memória das férias no nosso país. Ainda assim, foi cobiçado por ambos e sempre demonstrou a sua preferência.
Quis o destino que Raphael Guerreiro brilhasse com intensidade num Europeu realizado em França e que ajudasse Portugal a chegar à final do torneio, a dois passos de sua casa.
Entre Le Blanc-Mesnil e o Stade de France, em Saint-Denis, são apenas 10 quilómetros de distância. É ali ao lado.
Raphael Guerreiro preferiu dar a volta, ir por Portugal e representar – a par de Anthony Lopes - uma imensa comunidade de luso-franceses que cresce por lá sem renegar a herança lusa. Segue-se...a França que o viu nasceu e crescer.
Obrigado Raphael.
PS: a 24 de junho, após a fase de grupos, utilizei este espaço para tecer algumas críticas ao processo da Seleção. Preferi assumir que duvidar em silêncio. Escrevi que morderia a língua se o tempo desse razão a Fernando Santos. Naturalmente, não iria assobiar para o lado. Aqui estou a morder publicamente a língua. Parabéns Engenheiro."
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