"Em causa nas eleições estão duas abordagens e visões diferentes para o mesmo clube e nunca uma afronta ao poder ou uma guerra pessoal.
No próximo domingo joga-se um FC Porto-Sporting que pode permitir ao clube de Alvalade dar mais um passo rumo ao título de campeão nacional. Por norma, um jogo desta dimensão seria considerado o evento mais importante do fim de semana azul e branco. Estando ou não na luta pelo campeonato, estes jogos têm sempre um grau de importância elevado. Contudo, as atenções estarão centradas não no clássico, mas sim nas eleições.
Há 42 anos que as eleições no FC Porto não tinham um destaque desta dimensão. Até ao momento, e ao longo do seu reinado, nunca Pinto da Costa tinha sido colocado em causa por um adversário. Este será um dia muito importante para o rumo do clube. Será que o agradecimento irá superar a organização? O passado irá vencer a modernidade? Paralelamente, também está em causa o desenvolvimento do futebol português. Todos temos a perfeita noção de que para a nossa liga ter o crescimento esperado, internamente, e isso ter reflexo no exterior, temos de ter um FC Porto forte e com capacidade para discutir a liderança com os rivais.
Assim, o que está em causa não é o ADN Porto, até porque esse irá estar sempre presente. O que os sócios vão ter de decidir é qual o rumo que querem que o clube siga. Devem por isso fazer uma avaliação SWOT (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças).
Ponto forte
Ao contrário do que muitos quiseram fazer passar, o facto de ter aparecido um candidato que coloca em causa o status quo não significa que o FC Porto esteja dividido. Pelo contrário, a candidatura de André Villas-Boas vem demonstrar a vitalidade do clube. A existência de uma alternativa credível é muito importante para todas as organizações. De uma forma positiva, AVB apresentou propostas, abordou questões pertinentes, apresentou a sua equipa, identificou problemas e esboçou soluções. AVB não se trata de um inimigo, mas sim de alguém que tem uma visão diferente para o clube.
Mesmo num contexto muito adverso, em termos financeiros, e com o respetivo reflexo na diminuição da capacidade desportiva, ano após ano, haver uma alternativa com esta capacidade demonstra a força do clube. O que está em causa no próximo sábado serão duas abordagens e visões diferentes para o mesmo clube e nunca uma afronta ao poder ou uma guerra pessoal e de egos.
Fraquezas
Durante esta semana os dois candidatos irão ter a oportunidade de apresentar os últimos argumentos. O que todos esperamos é que o ato eleitoral decorra dentro da normalidade, com segurança, liberdade de expressão e sem suspeições em torno dos resultados. Sem dúvida que se trata de uma grande oportunidade para o FC Porto demonstrar a sua grandeza fora dos relvados, com grande adesão dos seus associados e com a capacidade democrática de aceitar o desfecho das eleições.
Um dos pontos menos positivos da campanha tem sido a forma agressiva com que a atual direção tem colocado em causa a equipa apresentada por AVB, fazendo com que este acabe por responder na mesma moeda, em determinadas situações. Em vez de se debaterem ideias e propostas, a realidade é que a forma escolhida para criticar a alternativa apresentada tem passado pelo ataque pessoal, quase sempre, sem lógica.
Por outro lado, a forma como se têm tomado decisões, a poucos dias das eleições, demonstram uma enorme falta de ética da atual administração. São vários os exemplos. Em tantos anos o FC Porto nunca avançou para a construção de uma academia. Foi necessário aparecer uma alternativa, com um projeto distinto, para a administração liderada por Pinto da Costa se apressar a comprar terrenos na Maia e (supostamente) iniciar obras a poucos dias das eleições.
Outra decisão estruturante foi a contratualização da venda de 30% dos direitos económicos do Estádio do Dragão a 10 dias das eleições! Quem não está agarrado ao poder, quem coloca o clube acima de todos os seus interesses e quem respeita os adversários sabe que estas decisões estruturais deveriam ser tomadas pela administração que vença as eleições, sendo ainda mais estranho que se concretizem a poucos dias do ato eleitoral!
Oportunidades
Há muita coisa em causa nestas eleições. Os sócios terão de optar por um discurso e uma política de norte contra o sul, que é encabeçada pela atual administração, ou por uma visão que possa aproximar a gestão do clube à dimensão que ganhou em campo, nas últimas décadas.
A realidade é que dentro dos relvados o FC Porto é um clube mundial, que se bate com qualquer adversário. Já na gestão dos seus recursos, o FC Porto é uma instituição pouco transparente, amadora e que utiliza as mesmas estratégias que utilizava no século passado, não querendo perceber que o mundo evoluiu. Assim, os sócios podem, legitimamente, optar por uma modernização do clube, por uma estrutura profissional que o transforme numa marca mundial e que assuma a sua importância no rumo que o futebol português tem de encetar.
Por outro lado, podem escolher uma continuação do passado e de uma estratégia que passa por ir hipotecando o futuro no presente, antecipando receitas, gastando recursos de uma forma injustificável e com uma visão muito redutora da dimensão do clube no mundo.
Ameaças
Um ponto fundamental é a forma como o processo eleitoral se vai desenrolar. É crucial que não se coloque em causa o processo eleitoral e que os derrotados aceitem o resultado, de uma forma democrática. Uma condição está diretamente ligada à outra. Se tal não acontecer, estas eleições poderão resultar numa divisão interna que em nada beneficiará o clube. Assim, independentemente da estratégia que cada uma das listas tem seguido, é fundamental que se criem condições para que não existam dúvidas relativamente ao processo eleitoral.
A recente notícia em torno do não cumprimento do fair play financeiro, que a UEFA apenas irá esclarecer após as eleições, poderá significar que existem muitos mais problemas por resolver e que não se conseguem alcançar através da análise do relatório e contas. Neste ponto, o Sporting é um bom exemplo, porque se conseguiu levantar depois de um dos dias mais negros da sua história, numa fase em que o clube apresentava dificuldades a todos os níveis. Com uma equipa profissional bem coordenada, e com o propósito certo, as ameaças podem transformar-se em oportunidades.
A valorizar
Luis Enrique.
Contra muitas projeções, Luis Enrique colocou o PSG nas meias-finais da Liga dos Campeões eliminando o Barcelona. O PSG tem legítimas ambições nesta competição. Será que vai ser desta que a equipa francesa, bem comandada pelo maestro Vitinha, alcança o tão almejado título de campeão europeu?
A desvalorizar
Rui Costa.
Num ano tudo mudou. As certezas acerca do projeto desportivo do Benfica transformaram-se em dúvidas. A excelente política de contratações transformou-se num conjunto de decisões questionáveis. A realidade está longe de corresponder à expetativa."
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