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sábado, 30 de março de 2024

O valor de Grimaldo


"Espanhol não esconde o que o fez deixar a Luz, e ter ‘Bundes’ antes de Liga ainda pesa

Em primeira análise, o discurso de Alejandro Grimaldo, em entrevista ao jornal A BOLA, pode ser visto como incongruente. O internacional espanhol confessa que Rui Costa teve um papel quase paternal, descreve Roger Schmidt como um treinador especial e até garante que o Benfica sempre o tratou bem. Lá pelo meio explica a decisão de sair em final de contrato: «O clube realmente não apostou em mim.»
A declaração é forte, e pode até soar injusta a quem recrutou Grimaldo — por milhão e meio de euros — quando este percebeu que estavam fechadas as portas da equipa principal do Barcelona, mas o esquerdino não nega aquilo que esteve na base da decisão da partida para Leverkusen. Ao falar em «grandes distâncias» na hora de negociar, confirma que a discrepância era significativa, ainda que a oferta encarnada fizesse do seu salário um dos mais elevados do plantel.
O Benfica estava no direito de entender que não podia elevar mais a fasquia, Grimaldo era livre de entender que merecia mais, até porque tinha quem lhe desse outros valores. O lado emocional do desporto pode fazer com que os adeptos esqueçam que os atletas querem o melhor para as suas vidas, como qualquer pessoa, mas enganem-se aqueles que julgam que os clubes são menos insensíveis na matéria.
Mais do que olhar para o salário de Grimaldo, o Benfica deve olhar para o dinheiro que tem investido em busca do sucessor, até porque o legado tem andado entregue a Aursnes. Da contratação falhada de Milos Kerkez à aposta de recurso em Álvaro Carreras, o pior sinal foi mesmo dado pela contratação de um jogador com o perfil de Jurásek.
Rui Costa não tinha de pagar aquilo que Grimaldo pedia, mas o real valor do espanhol talvez só tenha sido contabilizado esta época. Roger Schmidt perdeu um 10 disfarçado de lateral, capaz de jogar na linha ou por dentro, influente tanto na primeira fase de construção como no último terço. Nenhuma outra saída teve tanto impacto na equipa.
O Benfica perdeu um dos melhores laterais da sua história, que entretanto — com 11 golos e 15 assistências — ganhou o direito a reivindicar um lugar entre os melhores do mundo. Leverkusen parecia de menos para a qualidade de Grimaldo, mas o esquerdino sabia o que esperar de Xabi Alonso — incluindo um sistema de três centrais que o potencia. Provavelmente não esperaria estar com 10 pontos de vantagem do Bayern, mas agora até se pode dar ao luxo de sonhar com uma final da Liga Europa com o Benfica, para além de ter chegado à seleção espanhola.
Ter Bundes antes de Liga ainda pesa, e não é por acaso que Grimaldo diz que em Portugal há «três equipas e meia». Não é pela diferença pontual entre o primeiro e o quarto classificado que fica demonstrado que um campeonato é altamente competitivo."

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