"Está mais do que provado. Uma das formas mais eficazes de mostrar clareza de processos é abrir o jogo.
Na arbitragem, eternamente sob brasas, isso só se faz com mais e melhor comunicação para o exterior.
"Ninguém desconfia do que conhece, mas todos suspeitam do que não conhecem". Esta é uma verdade eterna, intrínseca à nossa natureza. À natureza humana.
Vem isto a propósito da imagem negativa dos árbitros. Esse carimbo não nasceu hoje mas no dia em que se decidiu que o futebol precisava de regras e de alguém que zelasse por elas.
Até ao seu aparecimento, a bola rolava com liberdade. Sem restrições. Não havia cartões nem protestos. Quando um jogador gritava "falta", todos os outros paravam (mesmo os que tinham nervos a mais ou oxigénio a menos).
Era um pouco como acontece hoje, quando meia dúzia de vizinhos se juntam para jogar à bola ou quando os miúdos aproveitam o intervalo para improvisar uma peladinha.
Mas o crescimento do jogo foi rápido e, a determinada altura, o mero "falta, pára tudo" deixou de ser eficaz. Não se ouvia. Não se respeitava.
Está fácil de perceber porque é que os primeiros árbitros foram apelidados de desmancha-prazeres. Eles caíram de paraquedas e "estragaram" a pureza selvagem do jogo. Arruinaram a essência das jogatanas duras, para homens de barba rija, onde a perna só acabava no pescoço.
Daí a malandros, ladrões e corruptos foi um saltinho.
O respeito inicial (sol de pouca dura) deu lugar à contestação e, depois, ao empurrão e à agressão.
Nota pessoal: o Governo devia aprovar um decreto-lei que obrigasse à criação de um registo com a descrição dos episódios mais escabrosos que os árbitros passaram em campo. E devia aprovar outro que impusesse a redacção de um dicionário onde estivessem compilados todos os impropérios de que são alvo.
Seria um espólio de valor (gramaticalmente) incalculável. Acreditem.
Entretanto, o espectáculo agigantou-se, industrializou-se, despertou interesses maiores. Os meios de escrutínio cresceram tanto que hoje é mais fácil um adepto encontrar uma agulha num palheiro do que um árbitro um penálti numa área.
Perante este cenário e sem perspectivas de melhoria à vista - o povo ainda acha que a beleza do futebol está na polémica que o rodeia e não no brilho que produz em campo - a única forma de minimizar danos é mostrar a quem está cá fora que não há nada a esconder. Porque, de facto, não há.
A arbitragem é uma classe imprescindível porque sem árbitros não há jogos.
Tudo o que a compõe, rodeia e faz mover obedece a critérios, regulamentos e códigos deontológicos bem definidos.
Se tanta gente põe em causa nomeações, avaliações e decisões, porque não desmontar tudo isso, mostrando-lhes que por trás de cada opção há uma razão? Porque não desmistificar o erro, explicar a regra, reconhecer a falha, valorizar o acerto?
Estes são tempos diferentes. São os tempos dos tweets do Trump, das selfies do "Marcelo" e das stories do Papa. A coisa está de tal modo avançada que até o Vaticano criou o E-Terço. Sim, leram bem: o E-Terço!
A opção mais sensata de quem é sensato é apanhar o comboio e seguir o mesmo caminho.
Saber comunicar para fora é uma arma poderosa quando bem utilizada, porque desfaz equívocos, dilui suspeitas e esclarece dúvidas.
Não apagará as críticas à competência nem domesticará os acéfalos com um só neurónio, mas aumentará a tolerância de muitos e diminuirá os ataques à idoneidade de quem está lá dentro.
A ideia, obviamente, não é pôr os árbitros nas flash interview, em conferências de imprensa ou a dar entrevistas diariamente. É encontrar formas inteligentes, planeadas e consistentes de mostrar o que pode e deve ser mostrado para quem está deste lado.
Os adeptos, a imprensa e até os agentes desportivos gostam de ouvir, perceber e ver o que desconhecem com os próprios olhos. Isso conforta-os, acalma-os, devolve-lhes crença e confiança.
Se é disso que precisamos para dar um passo em frente... estamos à espera de quê?"
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!