"O tão criticado futebol português deu uma boa resposta no início da Crise do Vírus. Ameaçou jogos à porta fechada, mas rapidamente desistiu dessa infeliz ideia e fechou para férias. Do aconchego do confinamento caseiro surgiram apelos à sociedade civil e doações de monta para o combate à pandemia. Foi bonito o início, mas soprado para longe o fumo do fogo de artifício inicial, os responsáveis do pontapé na bola nacional parecem decididos ao regresso à catadupa de decisões infelizes.
Ninguém tem dúvidas que o campeonato será retomado. Contudo ninguém sabe como. Aparentemente, é imprescindível eleger um campeão nem que o mesmo saia de um buraco cavado à picareta. Mais importante do que definir um campeão, parece apenas ser garantir que se saca o dinheiro aos patrocinadores e televisões, para garantir a sobrevivência dos clubes, que ao que consta não passa pela existência de adeptos nas bancadas.
Se há coisa que o Covid-19 tornou bem clara é esta mesmo: o adepto não serve para nada no futebol. Podemos emigrar todos para a Lua, que o espectáculo irá continuar. As campanhas de angariação de sócios e as chamadas de adeptos aos estádios são merda. Nós não contamos para o totobola do futebol. Quanto muito, estamos ali a mais porque protestamos quando nos sentimos defraudados pelos dirigentes, treinadores ou jogadores. Somos o elemento dispensável da indústria. Não interessa que estejamos fora da arena. A partir do momento em que o detentor dos direitos de transmissão televisiva possa filmar e difundir em directo para o Mundo os logos dos patrocinadores, o futebol nacional está salvo.
O meu protesto pelo regresso martelado das Ligas Profissionais não seria mais do que um desabafo de um ingénuo, se não houvessem factos que tornam esta insistência na disputa de 91 jogos de futebol uma bizarria. Reparem: as autoridades anunciaram que se calcula o pico da pandemia para meados de Maio, esperando-se que o mesmo seja "achatado". O Primeiro Ministro disse que ainda temos pela frente 2 ou 3 meses "no túnel". Perante isto, a LPFP acha concebível o regresso aos treinos no final de Maio e jogos em Junho. Mais, num momento em que todo o Mundo raciona ou racionaliza testes ao Covid-19, propõe-se escavacar 2 ou 3 mil exemplares (fazendo contas por baixo) em jogadores, staff, dirigentes, árbitros e restantes intervenientes nos jogos.
A boa imagem que o futebol deixou no início da tragédia, vai-se diluir totalmente na estupidez do regresso à competição. Com FC Porto campeão ou campeonato anulado, a temporada tem que ser dada por terminada, os jogadores e técnicos libertados da ânsia do regresso sem data para se preocuparem exclusivamente com as respectivas famílias e faça-se uma preparação atempada da próxima temporada, para não se colocarem em causa 2 épocas. Basta que se pense: vão se disputar um Derby Eterno e um Clássico com o eco dos gritos dos jogadores e o som dos carros que passam lá fora. Quem raio vai festejar golos nesta altura? Quem vai cantar "We are the Champions" ufano e de peito cheio?
Benfica Benfica Benfica... Dá-me o 38... Na Próxima Temporada."
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