"Tem sido constante ultimamente notícia o facto de treinadores exercerem estas funções sem terem o curso de treinadores exigido por lei, argumentando-se com os seus resultados ou o seu currículo. No entanto, a um bom condutor não lhe é permitido conduzir na via pública sem carta de condução…
Recorrendo a ex-jogadores, o currículo de Paulo Futre como jogador é excepcional mas Paulo Futre não tem currículo como treinador.
Paulo Futre é um daqueles génios da bola que teve a felicidade de, depois de ter deixado de jogar, ter tido alguém que, em Espanha, lhe tenha dado a mão. Teve a felicidade de não ser um daqueles três em cada cinco futebolistas com salários superiores a 140 mil euros por mês que terminam a sua carreira falidos, ou acabam nesta situação em apenas cinco anos (sim, é um estudo realizado em Inglaterra com 30 mil jogadores). É uma pessoa que provavelmente aufere de rendimentos daquilo que escreve nas suas crónicas semanais num diário desportivo e que de certeza aufere de rendimentos provenientes de publicidade televisiva – o que não é extensivo a todos os ex-jogadores excepcionais.
Paulo Futre é uma das pessoas que defende que um jogador internacional, com uma carreira relevante, e exactamente por ter sido isso, possa ser automaticamente um treinador. Como se o facto de ser um bom jogador desse origem automaticamente a um bom treinador… mesmo sem ter competências a nível de metodologia de treino, de fisiologia do esforço, de pedagogia do desporto, de… (a lista seria longa, muito longa). Um bom jogador pode não ser por natureza um bom condutor de homens, e aí esvai-se toda a sua capacidade técnica, todo o seu rendimento, toda a sua percepção táctica. Salvo erro foi Olímpio Coelho – e cito de memória – que disse algo parecido com isto: alguns treinadores falham nas suas funções e objectivos por deficiente preparação técnica mas a maioria dos insucessos devem-se a uma deficiente preparação psicopedagógica.
Ao invés, um bom treinador pode nem sempre ter sido um jogador de relevo. O futebol está cheio destes exemplos. Alguns entre nós, outros lá fora. Neste lote poderemos incluir José Mourinho e Jorge Jesus. Estes, para além de revelarem competências técnicas e pedagógicas revelam também competências de planeamento, de gestão, de execução, de avaliação e competências de liderança. A maior parte destas não foram adquiridas no relvado enquanto jogadores.
Claro que também há jogadores excelentes que são excelentes treinadores. Josep Guardiola é um deles…
Ter sido um bom jogador e ter um currículo de relevo não capacita ninguém a orientar treinos e a obter bons resultados. Há uma linha bem definida entre o que é e o que faz um jogador e as funções do treinador. Mesmo que esse treinador de encontre rodeado de terapeutas, de nutricionistas, de “preparadores físicos”, de treinadores adjuntos disto e daquilo.
Um bom jogador não é necessariamente um bom treinador. A prova provada é exactamente confirmada pelo próprio Paulo Futre na sua coluna de opinião de 8 de Março do corrente ano, na página 13 do «Record», quando afirma: “quando estiver com um médico de Medicina Desportiva vou perguntar-lhe por que razão um profissional de futebol canhoto, por muito que treine o pé direito, não consegue ganhar potência no remate”. Um jogador de eleição não sabe isto mas um treinador sabe.
Esperemos que quem tutela a formação de treinadores de facto não embandeire por essa via – a de transformar óptimos jogadores em treinadores por decreto.
Ignorar este assunto não fará desaparecer o problema."
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