"Rezam as crónicas, entre o tom angustiado e o evocativo, que Paulo Gonçalves se preparou toda a sua vida para correr. Eu acho que também se preparou toda a sua vida para morrer. Este era o seu 13.ª Dakar, uma das provas desportivas mais perigosas do mundo. Durante estes 13 anos, o piloto português de motos já tinha sofrido acidentes aparatosos e graves. Nunca o fizeram recuar. Era um guerreiro, como lhe chamou António Félix da Costa, e os guerreiros preparam-se para vencer e para morrer.
Pode fazer pouco sentido que o desporto envolva tamanho risco. No entanto, há desportos que não vivem sem o risco da própria vida. Durante muitos anos, a Fórmula 1, um espectáculo de dimensão universal, foi cemitério de grandes campeões. Airton Senna foi um dos mais impressionaram os portugueses, até pela sua forte relação com Portugal. Mas na Fórmula 1 a segurança passou a ser uma prioridade e, mesmo com uma eventual diminuição de espectacularidade, as provas não deixam de ter riscos para os pilotos, mas são mais controlados.
No Dakar, os pilotos estão mais expostos ao risco de morte, têm muito menos defesas, estão muito menos protegidos. Mesmo assim, admito que seja mesmo esse risco que lhes dá a adrenalina de que precisam. Sabem que podem morrer em pista, mas sentem-se como toureiros que acham que a morte na arena é a mais gloriosa.
Lamento muito a morte de Paulo Gonçalves. Como piloto e como homem. Queria muito ganhar um Dakar (foi 2.º em 2015), mas foi sempre um exemplar activista da ética e do fair play no desporto. E há tão poucos assim..."
Vítor Serpa, in A Bola
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