"Não foi há muito tempo que a escandaleira da indignação invadiu as almas desportivistas de Portugal. Lá longe, a uns 10.000 km de distância, um autocarro de uma equipa de futebol tinha sido apedrejado. A conclusão era simples: este crime perpetrado na Argentina era de facto hediondo, mas vá, típico de sul americanos com sangue quente latino americano a correr-lhes na canalização hepática. Até para quem está habituado a ver secções de informação desportiva nos telejornais nacionais, terminarem com cenas "de pancadaria num estádio sul americano", anunciadas por um pivô de sorriso maroto nos lábios, aqueles calhaus voadores mereciam o mais infame repúdio. Muito têm os argentinos a aprender com o fair play português, pareciam querer dizer.
Entretanto, quase 4 meses volvidos e o Portugal desportivo conseguiu empurrar para os rodapés noticiosos o pedregoso ataque de um autocarro com adeptos numa autoestrada, que deixou um dos ocupantes extremamente mal tratado, o vôo autónomo de inertes contra o autocarro de uma equipa que se deslocava ao terreno do rival para disputar (e vencer) um dos jogos mais importantes da temporada e o atropelamento de um autocarro vimaranense a 4 ou 5 pedregulhos, que por acaso se atiraram espontâneamente para a sua frente antes do derby minhoto. Das duas uma: ou estamos a assistir a uma revolução de granitos e calcários contra o desporto nacional, ou então existe um estranho fenómeno de moscas que comem pedras antes de suicidarem contra veículos automóveis de passageiros.
Pelo que concluíram as investigações até agora inexistentes, conduzidas por instituições policiais com sede na cidade dos Clérigos, não há mão criminosa nos constantes acidentes de viação a envolverem autocarros com passageiros de cariz desportivo e cascalho de entre-douro-e-minho. Quanto muito, estaremos perante coincidentes casos de motoristas desprovidos de reflexos motores, vírus que tem também afectado dirigentes sportinguistas e respectivas esposas em recentes visitas à cidade do Porto. A não ser que se tenha registado um significativo aumento da importação de carne de vaca argentina na cidade Invicta. O que seria estranho, porque o histórico mostra-nos que por ali preferem a de origem brasileira."
Brilhante e triste ao mesmo tempo!
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