"“Quero mudar as coisas, mas como garantir que as decisões tomadas são realmente implementadas?” – esta era a questão que Mark Angie o Presidente do F.C. Galácticos colocava a si mesmo. Já tinha recolhido informação sobre alguns dos suspeitos de estarem a “matar” a mudança no Clube, entre eles, a qualidade: da visão, da cultura, das normas e da motivação na organização.
O seu comprometimento já ultrapassava a simples consciência das causas para os problemas, ele queria mesmo alterar o estado da situação do Clube. Contudo, as decisões que tinha tomado, com a melhor das intenções, para melhorar a vida, experiência e resultados do Clube, não estavam a ser implementadas. O que poderia estar a impedir as pessoas de executarem as decisões da Direcção do Clube, questionava-se.
Depois de culpar os outros e a sua competência, decidiu “ir mais longe” e procurar eventuais causas de que não se estivesse a aperceber. Não vislumbrando o porquê, decidiu convidar o Detective Colombo, para tomar um café, na esperança de descobrir o problema-solução.
Já se encontrava sentado, numa esplanada voltada para uma praça, com árvores centenárias, rodeadas por relva e, entre elas, como estradas no meio da floresta, caminhos de terra batida e alguns bancos. A calma e tranquilidade reinava naquela praça. Ao fundo, como que em segundo plano, na estrada, via a agitação dos carros, semáforos, do para e arranca, até que é interrompido … - “Presidente Angie” – saudava-o o Detective Colombo – “como está?”. “Bem, obrigado, Detective Colombo, agradeço-lhe a disponibilidade para conversarmos” – respondeu o Presidente Angie.
Depois do Detective Colombo pedir o seu café 3/4, o Presidente Angie abordou-o com a frontalidade que o caracterizava - “vou directo ao assunto, nas últimas semanas e fruto da sua investigação, descobri que a qualidade da visão, cultura, normas e motivos do Clube estavam a “matar” a sua mudança, o seu desenvolvimento. Apercebi-me do muito conhecimento sobre estas temáticas, das várias alternativas sobre estes assuntos e decidi mudar as coisas com a melhor das intenções, mas as situações não só não estão a melhorar e as decisões não estão a ser implementadas, como estamos mesmo a piorar. O que poderá estar a acontecer Detective Colombo?”
“As coisas estão a piorar, como assim?” – perguntou o Detective Colombo. “As decisões que tomámos criaram muitos problemas: há pessoas descontentes, há resistências, há alguns boicotes e já começaram os protestos de uma parte da massa associativa” – respondeu o Presidente Angie.
“Presidente, explique-me como tomou essas decisões?” – indagou o Detective Colombo. “Reuni com a Direcção, apresentei os problemas, as respectivas alternativas, a melhor resposta para a situação e depois distribui responsabilidades, pelos vários departamentos, para que as soluções que apresentei fossem implementadas” – relatava o Presidente Angie.
“Presidente Angie, deu a possibilidade dos colegas de direcção acrescentarem alternativas?” – verificava o Detective Colombo. “Não, tinha conversado com o Detective e já possuía um amplo conhecimento quer sobre o problema, quer quanto às alternativas” – replicou o Presidente Angie.
“Como é que se sentia e reagia se fizesse parte de uma Direcção em que o Presidente informava do problema e a apresentava a solução, sem lhe dar a oportunidade de contribuir?” – questionou o Detective Colombo. “Sentiria algum desconforto, inquietação e provavelmente iria reagir com passividade, no início e com alguma irritação, se a situação se voltasse a repetir” – devolveu o Presidente Angie.
“Muitas vezes os líderes acreditam que já perceberam tudo, esquecem-se de escutar as outras pessoas, potenciais alternativas e contributos e depois esperam que o que decidiram sozinhos seja concretizado pelos outros. Presidente Angie acredita que toma sempre a melhor decisão?” – questionou o Detective Colombo.
“Sim, tomo sempre as decisões com a melhor das intenções” – respondeu o Presidente. “Acredito que sim” – respondeu o Detective Colombo e de imediato perguntou – “Presidente, costuma envolver as pessoas afectadas pelas decisões no processo de decisão?”.
“Como assim?” – tentava perceber o Presidente. “Imagine que vai tomar uma decisão que irá afectar os treinadores, é habitual chamá-los, apresentar-lhes os problemas e solicitar-lhes soluções, antes de decidir? Quando toma uma decisão que afecta os jogadores, costuma chamá-los e escutar as suas propostas, antes de decidir?” – perguntou o Detective Colombo.
“Não, reúno com a direcção e decido” – devolveu o Presidente. “Compreendo, Presidente acredita que o processo ou estratégia que utiliza está a produzir os resultados que procura?” – questionou o Detective Colombo.
Fez-se silêncio, os segundos que passaram pareciam minutos, o Detective Colombo aguardava e até conseguia perceber o contraste entre a tranquilidade da praça e agitação da estrada ao fundo.
“Presidente, o que é que acabou de descobrir?” – Perguntou o Detective Colombo. “Apercebi-me de três coisas: uma, que o líder pode envolver as pessoas afectadas pelas decisões, antes de decidir; a segunda, que o líder é responsável por encontrar a melhor decisão, mesmo que essa não seja a sua decisão inicial e que para isso acontecer, ajuda escutar as alternativas e soluções das outras pessoas; e por fim, que uma coisa é termos a melhor intenção e outra é produzir a melhor solução” – respondeu o Presidente Angie.
“Excelente Presidente e a propósito, utiliza alguma estratégia para tomar as decisões do Clube?” – inquiriu o Detective Colombo. “Não estou a perceber?” – devolveu o Presidente Angie.
O Detective Colombo fez novamente uma pequena pausa, como se estivesse a organizar as suas ideias e disse – “num Clube com a dimensão do F.C. Galácticos a Direcção toma decisões que envolvem milhões, como por exemplo: construir ou recuperar instalações, contratar treinadores e jogadores, mas também sobre desenvolver uma visão, cultura, normas e motivos, entre muitas outras situações. Que estratégia é que o Clube utiliza, para tomar as melhores decisões?”.
“Analisamos as vantagens e desvantagens de cada uma das possibilidades” – respondeu o Presidente. “Sim” – começou por dizer o Detective Colombo – “imagine que tem que decidir entre: contratar um astro em fim de carreira para a equipa principal, que irá comprometer a viabilidade financeira do Clube durante 2 anos, mas que agrada aos sócios, no imediato e lhe irá garantir a reeleição, dentro de um mês; ou criar condições – infraestruturas, técnicos, (…) - para transformar os jovens jogadores do presente em Campeões no futuro, mas que para isso terá que esperar 3 a 4 anos pelos resultados. Que decisão tomava?”.
“Bem, isso introduz uma nova variável, o tempo ou o impacto das decisões no curto e longo-prazo” – observou o Presidente, ao que o Detective devolveu – “Presidente considere agora as seguintes perspectivas, para a mesma decisão (canalizar o investimento para o astro ou os jovens): o que é melhor para si pessoalmente; o que colhe a aprovação dos outros e o que é melhor para todos, ao longo do tempo. Que decisão tomava em cada uma destas três perspectivas?”.
“O melhor para mim era ser reeleito e nesta perspectiva decidia contratar o Astro. O que acolhe aprovação dos sócios já é mais complicado. Estou certo de que uns ficariam agradados com a contratação do astro, enquanto outros prefeririam o investimento de médio-prazo nos jovens. Quanto ao que é melhor para todos, estou em crer que escolheria o que fosse melhor para a maioria” – respondeu o Presidente e, depois de uma breve pausa, continuou – “está a dizer-me que no processo de decisão há um factor moral e ético a ter em conta?”.
“Presidente” – devolve o Detective Colombo – “está o Presidente e há uma situação que gostaria de clarificar. Muitas vezes, confunde-se o melhor para todos com o melhor para a maioria, mas isso considera apenas o que a maioria entende que é melhor e desperdiça a quantidade e qualidade de informação que a minoria detém …” – ao que é de imediato interrompido pelo Presidente Angie – “… ok isso é muito bonito, mas é impossível conseguir decisões consensuais, que agradem a todos”.
“Será que é mesmo impossível Presidente? Será que o problema está no consenso ou no critério de consensualidade?” – perguntou o Detective Colombo. “Não estou a perceber!” – devolve o Presidente Angie.
“Vou tentar explicar-me melhor. Concordo consigo, será provavelmente impossível chegar a decisões em que 100% das pessoas estejam de acordo, mas já explorou a possibilidade de decidir pelas opções em que ninguém esteja completamente em desacordo, em vez de estarem 100% de acordo?” – devolveu o Detective Colombo.
“Estou a ver Detective: não envolvermos as pessoas que são afectadas pelas decisões, considerar que a melhor decisão é a minha, considerar apenas as vantagens e desvantagens, ignorando o impacto das decisões no tempo e descartar a razão moral e ética implícita nas decisões, ou seja, não utilizar uma estratégia e um critério de decisão, que provoque os resultados desejados, estão a “matar” a mudança do Clube. Necessitamos de melhorar a estratégia e o critério de decisão, se quisermos fazer melhores escolhas, se desejarmos gerar soluções em vez de problemas e se pretendermos que as decisões sejam realmente implementadas, em vez de ignoradas” – resumiu o Presidente.
O café estava tomado, a conversa tinha sido extremamente rica, o Presidente agradeceu a disponibilidade do Detective Colombo e despediu-se. Enquanto caminhava para o carro, recordava-se de tantas decisões que tinha tomado sem uma estratégia e um critério que tornassem reais as boas intenções e das consequências extremamente negativas, quer para a organização – Clube, quer para a vida das pessoas que trabalhavam e apoiavam o Clube. Ao entrar no carro, sentou-se e imaginou as situações em poderia utilizar uma estratégia e um critério para tomar boas decisões – “quando vou votar para as eleições locais ou nacionais; quando estou na assembleia municipal, enquanto deputado, e tenho que escolher; quando escolho a casa onde vou viver; quando apoio o meu filho a escolher o curso que quer tirar; quando vou negociar, quando estou a contratar um treinador ou um jogador, quando …” "
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