"1. Quando era miúdo adorava ouvir as cassetes dos meus pais naquela gigante e saudosa aparelhagem da sala, com uns auscultadores não menos gigantes e não menos saudosos. Uma das minhas cassetes preferidas, cuja fita devo ter recolocado vezes sem conta sempre que se enrolava no leitor, era a de Toto Cutugno. Como eu gostava de o ouvir. O mítico L'italiano (1983!) ainda ecoa, de tempos a tempos, na minha cabeça. Foi o caso nos últimos dias, a propósito do Sporting à italiana, assim definido por Jorge Jesus. É que na música de Toto Cutugno, em que ele diz para o deixarem cantar com a guitarra na mão (lasciatemi cantare com la chitarra in mano), justificando que é um italiano, um italiano de verdade (sono un italiano, um italiano vero), a dada altura ele fala num canário na janela (un canario sopra la finestra). Que coincidência, a história do Sporting à italiana também mete um canário. A diferença é que o canário de Toto Cutugno servia, entre outras menções na música, para traçar o retrato de um italiano vero, ao passo que o canário na Amoreira serviu antes para denunciar um italiano falso. A história do futebol cínico, pragmático e realista, à italiana, não foi mais do que uma tentativa de maquilhar aquilo que a equipa tem feito em campo, ou melhor, que não tem feito em campo, sobretudo nos últimos tempos mas também em vários jogos no fio da navalha ao longo da época, ganhos ou empatados no limite e com estrelinha.
2. Ou muito me engano ou, no dia 17, Bruno de Carvalho vai sair em ombros e o Sporting de cócoras. Porque, como alguém disse um dia, a pior ditadura não é a que aprisiona o homem pela força, mas sim pela fraqueza, numa prisão sem muros, fazendo-o refém das próprias necessidades. A necessidade dos adeptos do Sporting é vencer e com Bruno de Carvalho têm estado mais perto de o conseguir, pelo que, para a maioria, tudo o resto será sempre um mal menor. Não é preciso ter três olhos para ver isto. Gostava mesmo era de ter três ouvidos para ouvir Toto Cutugno."
Gonçalo Guimarães, in A Bola
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