"«Então não é que o presidente (...) anda com a mania que é o dono disto tudo (...), tipo aquele gajo da Coreia?», exclamou o Luís...
Estava uma manhã soalheira se bem que um pouco fresca como normalmente acontece à chegada do Outono. Luís Azevedo, reformado há um par de anos, lá fazia o trajecto habitual em direcção ao café de bairro, acompanhado do jornal da manhã, momentos antes comprado no quiosque da rua que o havia visto nascer. «Bom dia, Sr. Azevedo», saudou o Jaime, dono do estabelecimento, quando o viu entrar. «Bom dia, amigo. O garoto do costume, por favor!», pediu, dirigindo-se, de imediato, para a mesa onde o aguardava o vizinho e amigo Bruno Vieira, seu fiel companheiro de sueca. «Bom dia, Bruno», cumprimentou. «Olá, Luís, como vais?», respondeu o amigo, apertando-lhe a mão. «Eh pá, nada bem e ainda bem que te encontro, pois temos de fazer qualquer coisa pela sociedade já que as coisas estão a atingir o limite», exclamou o Luís com um ar um tanto ou quanto agastado. «Mas, afinal, o que é que se passa?», perguntou Bruno. «Desculpa lá, Bruno, mas andas distraído. Então não é que o presidente da colectividade anda com a mania de que é o DDT, isto é, o dono disto tudo, do género quero, posso e mando, tipo aquele gajo da Coreia? Tem lá paciência, por amor da Santa! É verdade que o elegemos e lhe demos um voto de confiança. Mas a nossa sociedade, com mais de 100 anos de história, pertence a todos nós, não é coutada de ninguém. O homem não pode fazer o que bem quer», exclamou Luís, com ar aborrecido, ao mesmo tempo que mexia o garoto. «Vê lá tu, Bruno, que no último jogo, mandou anunciar aos altifalantes do campo que uma das sobrinhas ia casar no próximo Domingo e que a outra tinha tido uma criança. Como se não bastasse, ouvi dizer que se prepara para gravar uma entrevista, a ser passada no intervalo do próximo jogo em casa, com graçolas de mau gosto». «Estás a brincar?», questionou Bruno com ar surpreendido. «Ouve: quem me contou foi o Rebelo, o director de campo que ouviu da boca daquele gajo que trata das rifas e da folha da publicidade e que ainda ganha umas coroas para fazer tudo o que o Presidente manda», explicou o Luís, desta feita, em tom mais baixo. «Deixa lá isso, amigo. Vamos é a Alvalade comprar os bilhetinhos para os jogos com o Porto e Barcelona. Este ano é nosso! A seguir tratamos da sociedade». Momentos depois, os dois amigos, em passo calmo e seguro, apanhavam o autocarro para o estádio."
Abrantes Mendes, in A Bola
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